Segunda-feira, 22 de Novembro de 2010

Reacção do Grão-duque Paulo Alexandrovich à morte de Rasputine

O Grão-duque Paulo Alexandrovich, era o filho mais novo do czar Alexandre II e, por isso, tio de Nicolau II, o único que ainda vivia durante a Primeira Guerra Mundial. Depois de ficar viúvo da Princesa Alexandra da Grécia e da Dinamarca, de quem teve 2 filhos, conheceu uma plebéia divorciada que, mais tarde, se tornaria na Princesa Olga Paley. Os dois fugiram da Rússia pouco depois do nascimento do seu primeiro filho em comum e casaram-se em segredo, na Itália, em 1902, o que fez com que Paulo perdesse os seus títulos e postos militares. Com Olga teve 3 filhos. Acabaria por receber perdão imperial em 1912, regressando ao seu país natal, onde passou a viver permanentemente na Primavera de 1914. Dmitri Pavlovich, filho do seu primeiro casamento, foi um dos acusados do assassinato de Rasputine.

 

Este relato foi escrito por Maurice Paléologue, embaixador francês na Rússia.

 

 

Terça-feira, 23 de Janeiro de 1917


Jantei em Czarskoe Selo com a família do Grão-duque Paulo Alexandrovich.


Quando nos levantamos da mesa, o Grão-duque levou-me para uma sala distante para que pudessemos ter uma conversa de homem para homem. Confiou-me todas as suas dores e ansiedades.


“O Imperador está mais na mão da Imperatriz do que nunca. Ela conseguiu convencê-lo de que os movimentos hostis que têm surgido contra ela – e que estão a começar a virar-se contra ele, infelizmente – não são nada mais do que uma conspiração dos Grão-duques e uma revolta de salas-de-estar. Isto só pode acabar em tragédia. Sabe qual é a minha crença na monarquia, e para mim o Imperador representa tudo o que é sagrado. Deve-se ter apercebido que sofro com tudo o que está a acontecer e pelo que está para vir.”


Pela sua emoção e pelo tom das suas palavras pude ver que ele está muito preocupado com o seu filho Dmitri que se tinha envolvido no drama. Proceguiu, impulsivamente:


“Não é terrível que, por toda a Rússia, estejam a ancender velas junto ao ícone de São Dmitri e o meu filho esteja a ser chamado do libertino da Rússia?”


A noção de que o filho dele poderia ser proclamado czar a qualquer altura não parece ter-lhe subido à cabeça. Ele é o que sempre foi, o paradigma da liberdade e da boa-educação.


Depois contou-me que quando ouviu em Mohilev sobre o assassinato de Rasputine, regressou imediatamente a Czarskoe Selo.

Quando chegou à estação ao final do dia 31 de Dezembro, tinha a Princesa Paley à espera dele na estação e foi ela que lhe disse que o Dmitri tinha sido preso no seu palácio em Petrogrado. Ele pediu imediatamente uma reunião com o Imperador, que consentiu em recebê-lo às onze nessa mesma noite, mas “apenas por cinco minutos,” uma vez que tinha muito para fazer.


Quando foi arrastado apressadamente para o gabinete do seu sobrinho, o Grão-duque Paulo protestou vivamente contra a prisão do seu filho:


“Ninguém tem o direito de prender um Grão-duque sem um mandato formal teu. Por favor liberta-o… certamente não tens medo que ele fuja, pois não?”


O Imperador fugiu a respostas concretas e pôs um ponto final na conversa.


Na manhã seguinte, o Grão-duque Paulo foi a Petrogrado para ver o seu filho. Perguntou-lhe:


“Mataste o Rasputine?”


“Não.”


“Estás pronto para jurar isso sob o ícone sagrado da virgem e uma fotografia da tua mãe?”


“Sim.”


O Grão-duque Paulo entregou-lhe depois o ícone da virgem e uma fotografia da falecida Grã-duquesa Alexandra:


“Agora: jura que não mataste o Rasputine.”


“Juro.”


Enquanto me contava este episódio, o Grão-duque foi verdadeiramente nobre, sincere e digno. Terminou com estas palavras:


“Não sei mais nada sobre a tragédia. Não quis saber mais nada.”


publicado por tuga9890 às 14:01
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Terça-feira, 10 de Fevereiro de 2009

Uma Actriz na Família - Biografia de Natalie Paley (1ª parte)

 

Natália Pavlovna Paley nascida a 5 de Dezembro de 1905, foi um ícone da moda, socialite e actriz nascida em França. O seu pai era o Grão-duque Paulo Alexandrovich da Rússia, filho do czar Alexandre II e tio do czar Nicolau II. Ficou mais conhecida entre o grande público pelo seu nome artístico, Natalie Paley.


Natália era descrita como o sonho dos publicitas de Hollywood. Uma criatura fascinante, descendente da mais rica e famosa família europeia, os Romanov, era a figura viva do “chic” francês e quase demasiado perfeita para ser real. A sua vida romântica e trágica foi algo que a ficção nunca poderia ter igualado. Viveu os últimos tempos da Rússia czarista, os glamorosos anos 30 na alta sociedade parisiense e movimentou-se pelos círculos mais altos de Hollywood e Nova Iorque.


A sua vida floresceu e depois apagou-se. No final tudo o que restou foi uma mulher triste e só que agraciou o seu século como uma rara, mas desperdiçada flor.

 

Natalie fotografada por Cecil Beaton

 

Os pais de Natália, o Grão-duque Paulo Alexandrovich da Rússia e a aristocrata Olga Paley, conheceram-se em São Petersburgo por volta de 1895. Na altura ela estava casada com um oficial e era mãe de três crianças. Paulo era também pai de dois filhos, (a Grã-duquesa

Maria Pavlovna e o Grão-duque Dmitri Pavlovich) mas viúvo. A sua esposa, a Princesa Alexandra da Grécia, tinha morrido ao dar à luz o seu filho Dmitri. Os dois apaixonaram-se rapidamente e começaram um caso em segredo. Contudo o segredo não durou muito tempo, uma vez que no dia 9 de Janeiro de 1897, Olga deu à luz o primeiro filho do casal, Vladimir Pavlovich. Olga conseguiu obter o divórcio do marido e deixou a Rússia na companhia de Paulo. Os dois casaram-se em

Livorno, na Itália, a 10 de Outubro de 1902.

No dia 21 de Dezembro de 1903 voltaram a ser pais, desta vez de uma menina a quem chamaram Irina. Pouco tempo depois do nascimento da bebé, o Rei da Baviera deu a Olga o título de Condessa von Hohenfelsen, que deveria ser transmitido aos seus descendentes. A família ainda se encontrava na Itália quando Paulo recebeu uma carta do seu sobrinho, o czar Nicolau II da Rússia, onde lhe foi transmitido que, devido ao casamento realizado sem a sua autorização, o casal e os filhos estavam banidos da Rússia. Embora tivesse sido um preço alto a pagar, principalmente para Paulo que tinha os seus dois filhos do primeiro casamento em São Petersburgo e era um patriota convicto.

 

Os pais de Natalie, o Grão-duque Paulo Alexandrovich e a Princesa Olga Paley

 

A família instalou-se em Paris e comprou uma casa em Boulogne-sur-Seine, onde Natália nasceu em 1905. A casa luxuosa onde viviam tinha pertencido anteriormente à Princesa Zenaide Ivanovna Youssoupova (mãe do Príncipe Félix Yussupov) e tinha permanecido fechada desde a morte dela em 1897. Paulo e Olga contrataram, ao todo, 16 criados que incluíam camareiras, jardineiros e tutores.

 

Natalie ainda bebé com a irmã Irina e o irmão Vladimir

Vladimir, Irene e Natália tiveram uma infância muito feliz com todas as vantagens de uma vida privilegiada e, durante algum tempo, viveram protegidos do mundo exterior. Apesar dos seus pais terem uma vida social ocupada, as crianças eram muito chegadas a eles e comiam todas as refeições juntos, um costume pouco comum para a sua época e posição. Aos Domingos a família costumava ir até a uma Igreja Ortodoxa próxima da sua casa e participar numa missa privada conduzida pelo padre que tinha baptizado Natália.

 

Natalie durante a sua infância na casa em Paris

 

O perdão chegou do czar Nicolau II em Janeiro de 1912 e Paulo decidiu deixar a França imediatamente para visitar os seus filhos do primeiro casamento em Czarskoe Selo, perto de São Petersburgo. Paulo sentiu-se em casa novamente e decidiu mandar construir um luxuoso palácio na sua cidade natal. Este novo projecto precisava de 64 criados, um grande contraste em relação à casa que a família mantinha em Paris. A família mudou-se para Czarskoe Selo na Primavera de 1914.

 

Natalie (dir.) com a irmã Irina

 

A pequena Natália, isolada das realidades que afectavam a Rússia czarista, ficou muito entusiasmada com a viagem, bem como com a descoberta de uma nova família, incluindo a sua avó materna e os seus meios-irmãos. Tornou-se rapidamente amiga das suas primas Olga, Tatiana, Maria e Anastásia, filhas do czar Nicolau II. Foi um momento dourado na vida de Natália, mas muito curto. Três meses depois de a família começar a sua nova vida, rebentou a Primeira Guerra Mundial. Ela tinha 9 anos de idade.

 

Natalie em 1914

 

A vida sem preocupações de Natália terminou. O seu irmão Vladimir, bem como a maioria dos homens da sua família, juntou-se ao seu regimento para lutar contra a Áustria e a Alemanha. Apesar da sua saúde fraca, o seu pai decidiu ignorar os conselhos médicos e juntou-se aos esforços russos na guerra em 1916.

A revolução eclodiu em Fevereiro e todos os membros da família Romanov foram mantidos sob vigilância. Em vez de abandonar o país, Paulo e a sua esposa, não vendo perigo, decidiram ficar no seu palácio. Quando o czar e a família foram exilados para a Sibéria, Natália e a sua família receberam ordens de prisão domiciliária. Cada dia que passava trazia novas humilhações ao ponto de terem soldados bêbados a dormir nos corredores. Em Janeiro de 1918, o governo de Lenine decretou que o palácio onde a família residia se deveria tornar num museu e Olga foi forçada a trabalhar como guia dos seus antigos bens confiscados pelo governo. O carro da família foi também confiscado e passou a ser utilizado por Lenine.

 

Natalie com a irmã em Czarskoe Selo

 

Natália, a irmã e a mãe foram depois forçadas a viver noutra área do palácio e a cozinhar para os guardas, sempre debaixo de insultos e insinuações. Apesar de ela nunca ter falado sobre isso em nenhuma entrevista ou em cartas, os amigos e familiares de Natália confessaram que um grupo de soldados abusou sexualmente dela durante a prisão, quando ela tinha pouco mais de 13 anos. Durante o resto da vida, este crime afectou as suas relações com homens.

 

Natalie na Suíça aos 14 anos

 

Mas o pior ainda estava para chegar. Vladimir foi preso em Viatka a 22 de Março de 1918 e o pai de Natália recebeu a mesma ordem a 30 de Julho. Em desespero Olga organizou a fuga das filhas com a ajuda de alguns amigos. A fuga aconteceu numa noite de Dezembro. As duas irmãs foram transportadas de carro até à estação de comboios de Ochta. Após uma viagem de quatro horas onde tiveram que viajar dentro do vagão de gado, as duas saltaram do comboio perto da fronteira com a Finlândia. O resto da viagem até ao país vizinho foi feita a pé. As duas adolescentes foram levadas para uma casa de caridade e esperaram pela chegada dos pais e irmão.

 

Natalie (dir.) com a irmã

 

O pai delas nunca conseguiu fugir da Rússia. O Grão-duque Paulo foi assassinado em Janeiro de 1919 juntamente com outros três parentes. Olga conseguiu chegar à Finlândia e encontrou as filhas. Na altura ela ainda estava a recuperar lentamente da tragédia da morte do marido e também de uma cirurgia de emergência à qual se tinha submetido para tratar de um tumor no peito. Em Setembro de 1919 as três descobriram que Vladimir tinha sido também assassinado em Julho do ano anterior juntamente com outros membros da família, incluindo a Grã-duquesa Isabel Feodorovna, tia de Natália. Também o ex-czar e a sua família tinham sido assassinados.

 

Natalie (em baixo) com a família em 1914

 

Natália mudou-se com a irmã e a mãe para a Suécia onde viveram até à Primavera de 1920. Depois voltaram para França onde venderam a sua antiga casa e compraram outra no 16º distrito. Com algumas jóias que lhe sobraram, Olga comprou uma villa em Biarritz, na costa atlântica, onde a família se juntava. Mais tarde ela vendeu a casa em Paris e comprou uma mais pequena em Neuilly. A saúde de Olga foi piorando ao longo que os meses avançavam. Em 1928 soube-se que os bens que tinham sido confiscados à família seriam vendidos num leilão em Londres. A família foi até Inglaterra para os tentar recuperar, mas não conseguiu.

 

Natalie (esq.) com a irmã durante a adolescência

 

Natália e a sua irmã foram enviadas para um colégio privado proeminente na Suiça, mas ela não se conseguiu misturar com os seus colegas. Tal como confessou mais tarde durante uma entrevista a uma revista, ela sentia-se “tão diferente dos outros. Aos 12 anos as meninas francesas ainda liam Robinson Crusoe e viam filmes do Douglas Fairbanks. Aos 12 anos eu levava pão ao o meu pai na prisão. Como poderia eu ser como elas? Eu era muda e não brincava. Mas andava a ler muito. Eu tinha visto a morte de tão perto. O meu pai, o meu irmão, os meus primos e os meus tios foram todos executados, todo aquele sangue Romanov derramado durante a minha adolescência. Tudo isso me deu gosto por coisas tristes, poesia e morte. Rapidamente as minhas colegas compreenderam-me e respeitaram a forma como era, por muito estranha que possa ter parecido.”

 

 

As irmãs regressaram a Paris onde Irina se casou com o Príncipe Feodor Alexandrovich da Rússia, filho da Grã-duquesa Xenia Alexandrovna. O casamento realizou-se no dia 31 de Maio de 1923. Apesar da felicidade da irmã, Natália não pensava em casamento, apesar de não lhe faltarem admiradores.

 

Tal como a maioria dos aristocratas russos sobreviventes da revolução que se tinham estabelecido em França, Natália foi à procura de emprego. Encontrou um quando entrou na casa de moda de Lucien Lelong em Matignon, perto dos Campos Elísios, onde foi contratada como modelo.


publicado por tuga9890 às 14:38
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