Um casamento morganático acontece quando um nobre, príncipe ou rei contrai matrimónio com alguém abaixo da sua posição social, seja o conjugue plebeu ou da baixa nobreza. A família imperial russa teve, na sua história, vários exemplos deste tipo de união, mesmo quando ela era ainda vista quase como um crime. De facto, não foi até ao casamento de Pedro III com a futura czarina Catarina II que a noção de união dinástica foi introduzida na Rússia. Até então, o czar podia escolher livremente a sua esposa entre as famílias nobres do Império. A lei que proibiu definitivamente os casamentos entre a realeza e nobres menores surgiu apenas com as leis paulinas de 1796, mas, quando começou a ser aplicada, foi rigorosa.
Grão-duque Constantino Pavlovich
Constantino Pavlovich, segundo filho do czar Paulo I da Rússia, tinha apenas 17 anos quando a sua avó Catarina o forçou a casar com a Princesa Juliana de Saxe-Coburgo-Saalfeld, uma tia da Rainha Vitória. O casamento foi extremamente infeliz, principalmente para ela. A principal razão para a antipatia entre o casal, terá sido a personalidade violenta de Constantino que chocou a sua jovem esposa de apenas 14 anos. Três anos depois, em 1799, o casal separou-se e Juliana voltou para Coburgo. Ainda houve uma tentativa de reconciliação em 1801, mas também não resultou. O divórcio oficial chegou em 1820, mais de vinte anos depois da separação.
Juliana de Saxe-Coburgo-Saafeld (Ana Feodorovna), primeira esposa de Constantino
Entretanto, em 1815, Constantino foi nomeado pelo seu irmão mais velho para o cargo de vice-rei da Polónia, um cargo que aceitou de bom grado por lhe dar a oportunidade de exercer o poder pelo qual esperava ansiosamente. Nesta altura toda a corte tinha a certeza que seria ele o próximo czar, visto que Alexandre I e a sua esposa Luísa não tinham filhos e estavam já a caminhar para a meia-idade. No entanto, isso nunca viria a acontecer. No mesmo ano em que chegou a Varsóvia, Constantino conheceu Joanna Grudzińska, uma nobre polaca filha de um dos últimos grandes senhorios do país.
Joanna
Ao contrário do seu casamento com Juliana, a relação com Joanna sempre foi relativamente calma, embora tivesse também os seus momentos conturbados devido à natureza excessivamente romântica dela, à qual Constantino não conseguia corresponder. Ao fim de quatro anos, o Grão-duque decidiu-se a pedir o divórcio oficial de Juliana e autorização para contrair um matrimónio legal com a sua amante polaca ao seu irmão Alexandre. O czar ficou dividido entre o seu dever em defender as regras da família e a empatia que sentia pelo irmão. No final os dois chegaram a um acordo secreto: Constantino abdicaria dos seus direitos ao trono e, assim, poderia casar-se com Joanna. O acordo foi feito de uma forma tão discreta que, anos mais tarde, quando Alexandre I morreu e Constantino ofereceu o trono directamente ao seu irmão Nicolau, nem este sabia que ele tinha abdicado do trono anos antes.
Joanna e Constantino casaram-se no dia 27 de Março de 1820, na Polónia. Durante vários anos, o casal desfrutou de uma harmonia quase perfeita. Numa carta à sua irmã gémea Maria, Joanna escreveu: “O dia de hoje foi igual ao de ontem e o de ontem igual ao anterior. Deus queira que nada se intrometa entre nós e a nossa doce monotonia.”
Constantino
Contudo, os seus desejos não foram cumpridos. Constantino tinha herdado o carácter violento do pai em tudo o que dissesse respeito à governação e o seu reinado na Polónia foi tão desastroso que resultou na Revolta de Novembro de 1830. O casal foi forçado a fugir do seu palácio em Varsóvia depois de uma multidão enraivecida o tentar invadir. Os meses seguintes foram extremamente conturbados. Os dois viveram durante alguns meses nas zonas russas que ainda não tinham sido afectadas pela revolução, mas eventualmente chegaram à conclusão de que a Polónia não resistiria por muito mais tempo.
Joanna
Em Junho de 1831, quando o casal tinha já planos para se mudar para São Petersburgo, Constantino adoeceu subitamente de cólera e acabou por morrer poucos meses depois. Joanna ficou destroçada. Teve ainda forças para entregar o corpo do marido na capital do Império, mas recusou todos os convites por parte do czar Nicolau I para passar a viver na cidade. Em Novembro do mesmo ano, quando se preparava para regressar à Polónia, numa altura em que a revolta começava a ser controlada, morreu daquilo a que muitos chamaram de desgosto.
Joanna nos seus últimos anos
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