Tatiana Nikolaevna Romanova foi a segunda filha de Nicolau II e Alexandra da Rússia, nascida no dia 10 de Junho de 1897 no Palácio de Peterhof.
Tatiana nos braços da mãe em 1897
Tatiana é descrita como alta e elegante, de cabelos negros e olhos verdes acinzentados. Era considerada a mais bonita das quatro grã-duquesas por muitos membros da corte.
Tal como as restantes crianças Romanov, Tatiana foi criada com alguma austeridade. Ela e as irmãs dormiam em camas amovíveis, sem almofadas, tomavam banhos frios de manhã e esperava-se sempre que estivessem ocupadas com bordados ou tricotados nos seus tempos livres. Os seus trabalhos eram oferecidos a bazares de solidariedade. De acordo com uma história, Tatiana, habituada a ser tratada apenas pelo seu nome e alcunhas, ficou desorientada quando a baronesa Sofia Buxhoeveden lhe chamou de "Vossa Alteza Imperial" e perguntou-lhe: "É maluca para me tratar assim?"
Tatiana com o seu pai Nicolau II e a irmã Olga em 1901, na Dinamarca
Tatiana e a irmã mais velha, Olga, eram conhecidas como "O Par Grande". Tal como as duas irmãs mais novas, as duas mais velhas partilhavam o quarto e eram muito próximas uma da outra desde os inícios da infância.
Olga e Tatiana em 1900
Na primavera de 1901, Olga teve febre tifóide e ficou confinada a um quarto durante várias semanas, longe das suas irmãs. Quando começou a melhorar foi-lhe dada autorização para ver Tatiana durante 5 minutos, mas esta não a reconheceu. Quando a sua governanta, Margaretta Eagar, lhe disse que a criança com quem esteve a falar era Olga, Tatiana de 4 anos começou a chorar amargamente e protestou dizendo que a pálida criança não podia ser a sua a sua adorada irmã. Eagar teve dificuldade em persuadi-la de que Olga podia recuperar. O tutor francês, Pierre Gilliard , escreveu que as duas irmãs eram "apaixonadamente devotas uma à outra."
Olga e Tatiana em 1906
Tatiana era prática e tinha um talento natural para a liderança. As irmãs deram-lhe a alcunha de "A Governanta " e enviavam-na como a sua representante quando queriam pedir alguma coisa aos pais. Apesar de ser 18 meses mais nova do que Olga, esta não tinha objecções quando Tatiana decidia tomar conta da situação. Ela era também mais próxima da mãe do qualquer das outras irmãs e era considerada por muitos que a conheciam, a filha preferida da czarina.
"Não era que as outras irmãs gostassem menos da mãe," recordou Pierre Gilliard , "mas a Tatiana sabia como rodeá-la de atenções sem limite e nunca abriu caminho para que a mãe tivesse impulsos caprichosos." Alexandra escreveu a Nicolau no dia 13 de Março de 1916 que Tatiana era a única das suas 4 filhas que compreendia logo quando ela explicava a sua visão das coisas.
Tatiana e Alexandra em 1909
Gilliard escreveu que Tatiana era reservada e "equilibrada" mas menos aberta e espontânea que Olga. Era também menos talentosa do que a irmã mais velha, mas trabalhava mais e era mais dedicada a projectos práticos. O coronel Kobylinsky , guarda da família em Czarskoye Selo e Tobolsk , sentia que Tatiana "não tinha nenhuma ligação com Arte. Talvez fosse melhor para ela ter sido um homem." Outros tinham a impressão de que os talentos artísticos da grã-duquesa eram mais visíveis em trabalhos manuais e na moda, tanto no vestuário como no cabelo. A amiga da sua mãe, Anna Vyrubova, escreveu mais tarde que Tatiana tinha um grande talento para desenhar roupa e croché e que era ela que penteava o longo cabelo da mãe como um cabeleireiro profissional.
1906 em Peterhof
Quando se tornou adolescente, um regimento de soldados foi oferecido a Tatiana que recebeu o titulo de coronel. Ela e Olga, que também tinha o seu próprio regimento, costumavam ir inspeccionar os soldados regularmente, o que gostavam bastante. Quando tinha quase 14 anos, uma Tatiana doente implorou à sua mãe que lhe desse permissão para sair da cama e fazer a inspecção aos soldados, para que se pudesse encontrar com um soldado com quem simpatizava particularmente. "Gostava tanto de ir à inspecção da segunda divisão, uma vez que sou a segunda filha e a Olga já foi, portanto é a minha vez," escreveu a Alexandra no dia 20 de Abril de 1911. "Sim, mamã, e na segunda divisão irei ver quem devo ver... tu sabes quem."
Olga e Tatiana com o uniforme dos seus regimentos (1913)
No Outono de 1911, Tatiana, de 14 anos, testemunhou o primeiro acto de violência quando assistiu ao assassinato do Primeiro-Ministro Pyotr Stolypin durante um espectáculo na Casa da Opera de Kiev. Tanto ela como a sua irmã Olga tinham seguido o pai para a sua tribuna no local e viram o disparo. O seu pai escreveu mais tarde à sua mãe, a Imperatriz Maria Feodorovna, no dia 10 de Setembro de 1911, e disse que a situação tinha perturbado ambas as filhas. Tatiana entrou em pânico e ambas tiveram dificuldades a dormir nessa noite
Tatiana com o pai na Finlândia em 1912. (Anastasia na direita)
Na Primavera de 1913, Tatiana sofreu de Febre Tifóide e, para seu desgosto, perdeu todo o cabelo.
Primavera de 1913 com a mãe Alexandra
Um ano mais tarde, quando rebentou a Primeira Guerra Mundial, Tatiana tornou-se enfermeira pela Cruz Vermelha juntamente com Olga e a mãe de ambas. Elas cuidaram de soldados feridos num hospital privado em Czarskoye Selo. De acordo com relatos dessa altura, "Tatiana era quase tão competente e empenhada quanto a mãe e apenas se queixava do facto de, devido à sua idade, ser poupada de casos mais exigentes."
Tatiana no seu uniforme de enfermeira em 1915
Tatiana era muito patriótica e pediu desculpas numa carta datada de 29 de Outubro de 1914 pelos comentários negativos feitos aos alemães na presença da sua mãe nascida nesse país. Explicou que se esqueceu que a sua mãe tinha nascido na Alemanha porque a via apenas como russa. A czarina respondeu que também se sentia assim e que a sua filha não a tinha insultado com as suas palavras afiadas, mas sentiu-se magoada pelos rumores que circulavam entre o povo russo de que ela era uma espia alemã.
Tatiana com a mãe nos inicios de 1914
No dia 15 de Agosto de 1915, Tatiana escreveu uma outra carta à mãe onde expressava o seu desejo de a ajudar a carregar os fardos trazidos pela guerra: "Simplesmente não te consigo dizer como estou triste por ti e por todos. Tenho tanta pena que não te possa ajudar ou ser útil. Em momentos assim, tenho pena de não ser um homem." À medida que crescia para a idade adulta, Tatiana começou a participar em mais ocasiões públicas do que as irmãs.
Nicolau II, Tatiana e Olga em 1915
Nesta altura, Tatiana era a mais conhecida das irmãs devido à sua atenção pelo dever e a amabilidade com que recebia aqueles que conhecia. A segunda filha do czar é recordada como a mais sociável das irmãs, procurando longas amizades com pessoas da sua idade, no entanto a sua vida social era restringida devido ao seu estatuto e ao facto de a mãe não gostar de ocasiões sociais. Tinha também um lado mais introspectivo, conhecido pelos seus amigos mais próximos e família. "Com ela, tal como com a mãe, a timidez e as reservas eram características, mas, assim que a conhecessem melhor e ganhassem a sua admiração, essa timidez desaparecia e a verdadeira Tatiana aparecia," recordou uma amiga da sua mãe. "Ela era uma criatura poética, sempre à procura do ideal, e a sonhar com grandes amizades que poderiam pertencer-lhe.
Tatiana em 1916
Chebotareva , uma amiga da mãe, que disse adorar a "doce" Tatiana quase como uma filha, descreveu como a grã-duquesa lhe segurou a mão quando estava nervosa ao caminhar em frente de um grande grupo de enfermeiras. "Estou tão terrivelmente envergonhada e assustada... não sei quem cumprimentar e quem não devo cumprimentar," disse-lhe Tatiana. A sua informalidade também impressionou o filho de Chebotareva , Gregório. Uma vez Tatiana ligou-lhe para que ela aparecesse em sua casa e falou primeiro com o seu filho de 16 anos. Gregório ficou chateado quando ela o tratou pelo seu diminutivo Grisha). Não sabendo quem estava a falar do outro lado, o frontal Gregório pediu à filha do czar que se identificasse, ao que ela respondeu, "Tatiana Nikolaevna ". Quando ele lhe perguntou outra vez, ainda sem acreditar que estava a falar com uma Romanov , Tatiana continuou sem revelar o seu titulo imperial de Grã-Duquesa " e respondeu que era "A segunda irmã Romanov ".
Com os pais em 1916
Numa outra ocasião durante a guerra, quando uma mulher que normalmente as levava do hospital até casa não as pôde ir buscar e enviou uma carruagem sem nenhum vigilante, Tatiana e a irmã Olga decidiram ir às compras pela primeira vez. Ordenaram que a carruagem parasse perto de uma zona de lojas e entraram numa delas, onde ninguém as reconheceu devido à sua farda de enfermeiras. Voltaram sem comprar nada quando se aperceberam de que não tinham dinheiro com elas e, mesmo que o tivessem, não iriam saber como o usar. No dia seguinte pediram a Chebotareva que as ensinasse a usar dinheiro.
Olga e Tatiana em 1916
A família partiu para o exílio após a Revolução Russa de 1917. Depois de um curto período em Czarskoe Selo, foram enviados para uma residência privada em Tobolsk . A mudança drástica de circunstâncias e a incerteza sobre o que iria acontecer, afectou Tatiana, tal como o resto da família. "Ela aborrece-se sem trabalho," escreveu a sua colega enfermeira Valentina Chebotarev depois de receber uma carta dela a 16 de Abril de 1917.
"É estranho sentar-me de manhã em casa, estar de boa saúde e não ir mudar ligaduras!" escreveu Tatiana a Chebotareva . Tatiana, aparentemente tentando defender a sua mãe, perguntou à sua amiga Margarita Khitrovo numa carta datada de 8 de Maio de 1917, o porquê de as suas colegas enfermeiras não escreviam directamente a Alexandra. Chebotavera escreveu no seu diário que, enquanto tinha pena do resto da família, não conseguia escrever directamente à imperatriz porque a culpava pela revolução. "Se alguém deseja escrever-nos, então que escrevam directamente," escreveu a filha do czar à "minha adorada" Chebotareva no dia 9 de Dezembro de 1917 depois de exprimir a sua preocupação pelas enfermeiras e por um paciente que tinham tratado juntas uma vez. O filho de Chebotareva , Gregório Tschebotarioff , reparou na "firmeza e energia da sua escrita" e como a letra "reflectia a natureza que fazia com que a sua mãe a estimasse tanto."
Com o pai e o primo Dimitri no último Verão de liberdade em 1916
O tutor inglês de Tatiana, Sydney Gibbes , recordou que a sua estudante emagreceu bastante durante o seu aprisionamento e parecia "mais distante" e mais misteriosa para ele do que sempre. Em Abril de 1918 os bolcheviques transferiram Nicolau, Alexandra e Maria para Ekaterinburgo. Os restantes filhos ficaram em Tobolsk devido ao facto de Alexis ter sofrido um outro ataque de hemofilia e não estar em condições para a longa viagem. Foi Tatiana quem persuadiu a mãe a "parar de se atormentar a ela própria" e decidir ir com o marido, deixando Alexis para trás. Alexandra decidiu que a sua forte filha devia ficar também para trás para tomar conta de Alexis.
Exilio no Palácio de Alexandre com Anastasia na Primavera de 1917
Durante o mês que passaram separadas dos pais e da irmã, Tatiana, Olga, Anastasia e uma empregada que tinha ficado com elas, mantinham-se ocupadas a coser pedras preciosas e todo o tipo de jóias por dentro das suas roupas, para as esconderem dos seus guardas. Tatiana e as irmãs ficaram mais tarde chocadas quando foram assediadas sexualmente pelos guardas a bordo do navio "Rus" que as levou de Tobolsk para Ekaterinburgo em Maio de 1918. Os guardas seguiam as pistas de um ou mais empregados no grupo e procuravam as jóias. Sydney Gibbes foi assombrado durante o resto da sua vida pela memória dos gritos aterrorizados das filhas do czar e pelo facto de não poder fazer nada para as ajudar
Olga, Tatiana, Pierre Gilliard, Sydney Gibbs e outros servos na sala de jantar de Tobolsk. Abril 1918)
Pierre Gilliard recordou mais tarde a última vez em que viu Olga, Tatiana, Anastasia e Alexis quando foram separados em Ekaterinburgo. "O marinheiro Nagorny, que sempre tomou conta de Alexis Nikolaevitch, passou pela minha janela com o rapaz doente nos braços, atrás dele vinham as grã-duquesas carregadas com malas e pequenos pertences pessoais. Eu tentei sair, mas fui empurrado bruscamente para a carruagem por um guarda. Voltei para a janela. Tatiana Nikolaevna vinha em último, carregando o seu pequeno cão e a esforçar-se por arrastar a sua grande e pesada mala castanha. Estava a chover e vi os pés dela a enterrarem-se mais profundamente na lama a cada passo que dava. Nagorny tentou ajudá-la; foi empurrado bruscamente por um dos guardas."
Uma das últimas fotos de Tatiana em Tobolsk
Em Ekaterinburgo, Tatiana juntava-se ocasionalmente às suas irmãs mais novas em conversas com alguns dos guardas. Nelas falavam de chá, perguntavam-lhes sobre as suas famílias e falavam sobre as suas esperanças para uma nova vida em Inglaterra quando fossem libertadas. Numa ocasião, um dos guardas esqueceu-se que estava a falar com um membro da realeza e contou uma anedota obscena. Tatiana, chocada, fugiu da sala, "pálida como a morte" e a sua irmã Maria repreendeu os guardas pela sua má linguagem. Ela "era simpática com os guardas se achasse que eles se estavam a comportar de modo aceitável e prendado," escreveu um dos guardas nas suas memórias. Tatiana, que continuava a ser a líder da família, era enviada muitas vezes pelos pais para questionar os guardas sobre as regras ou sobre o que lhes aconteceria. Também passou muito tempo sentada ao lado da mãe, a quem lia) e do irmão mais novo, com quem jogava jogos para ocupar o tempo.
As últimas palavras que Tatiana escreveu no seu diário em Ekaterinburgo foram uma transcrição das palavras do padre Ioann de Kronstadt: "A vossa raiva não tem medida, a raiva do Senhor nos Jardins de Getsêmani, pelos pecados do mundo não tem medida, juntem a vossa raiva à Dele, e nela encontrarão conforto."
Na tarde de 16 de Julho de 1918, o seu último dia completo de vida, Tatiana sentou-se com a sua mãe e leu excertos bíblicos do Livro de Amos e Obadia, escreveu Alexandra no seu diário. Mais tarde as duas simplesmente falaram uma com a outra
Tatiana Romanova foi assassinada na noite de 17 de Julho de 1918 juntamente com a sua família quando tinha 21 anos.
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