A Grã-Duquesa Isabel Feodorovna da Rússia nasceu no dia 1 de Novembro de 1864 em Hesse-Darmstadt, Alemanha e era esposa do Grão-Duque Sergei Alexandrovich, quinto filho do Czar Alexandre II. Era conhecida por “Ella” pela família e amigos e era a irmã 8 anos mais velha da Czarina Alexandra Feodorovna, esposa do Czar Nicolau II. Isabel tornou-se famosa na sociedade russa pela sua beleza, charme e trabalhos de caridade entre os pobres.
Isabel (esquerda) com os pais e a irmã Vitória
Em Novembro de 1864, a Princesa Alice de Hesse escreveu uma carta à sua mãe, a rainha Vitória do Reino Unido, onde lhe contava que ela e o seu marido tinham decidido chamar a sua segunda filha, nascida no primeiro dia desse mês, de Isabel em honra da Santa mais amada e venerada no pequeno ducado de Darmstadt. “Esqueci-me de te dizer,” escreveu ela mais tarde numa outra carta, “em resposta à tua carta sobre o nome da Ella que ela deve ser chamada de Isabel. Apenas ‘entre-nous’ a tratamos por Ella.” Nos meses que se seguiram as suas cartas para a mãe enchiam-se de pormenores sobre a doçura da nova bebé, dos seus olhos azuis-escuros, do seu cabelo loiro, da sua alegria, a sua bondade e, ocasionalmente, das suas asneiras.
Isabel (esquerda) com as irmãs Vitória e Irene
Em Agosto de 1865, a Rainha Vitória foi até Darmstadt, em parte para assistir ao inicio da construção do novo Palácio da Princesa Alice e do seu marido e em parte para conhecer a sua nova neta. Sem se alarmar ou intimidar com o ar majestoso que rodeava a mulher baixa e forte, vestida com um longo vestido negro, a bebé sorriu-lhe e deixou que a sua avó lhe beijasse as bochechas sem qualquer protesto. “Ela é muito boa, a minha avó,” disse ela um pouco mais tarde e a Princesa Alice ficou, sem dúvida, aliviada, uma vez que a sua segunda filha tinha as suas próprias ideias e tinha-se revoltado com a sua outra avó, a Princesa Charles de Hesse lhe tinha tentado tocar. “É muito cansativo,” disse a Princesa Alice sobre o facto de a sua adorável filha não se conseguir comportar com pessoas desconhecidas.
Mas quando no Verão de 1865 a sua mãe a levou a visitar Heilligenberg e a sua tia-avó Maria Feodorovna (esposa do Czar Alexandre II)pegou nela ao colo, a pequena criança ficou encantada e colocou os seus braços à volta do seu pescoço, colando a sua cara aquela que era a fria Czarina da Rússia e que encontrou na sua adorável sobrinha-neta um refúgio para os seus dias de solidão no Palácio de Alexandre. Foi durante esta visita que Isabel brincou pela primeira vez com aquele que seria o seu futuro marido, o Grão-Duque Sergei Alexandrovich.
Isabel durante a infância
Apesar de descender de uma das mais antigas e mais poderosas famílias nobres da Alemanha, Isabel e a sua família tinham uma vida bastante modesta quando comparada com os padrões reais. As crianças varriam o chão e arrumavam os seus próprios quartos enquanto a sua mãe confeccionava as suas roupas e as dos filhos. Durante a Guerra Austro-Prussiana, era frequente a Princesa Alice levar Isabel consigo quando visitava soldados feridos num hospital próximo. No meio deste ambiente relativamente feliz e seguro, Isabel cresceu rodeada de hábitos domésticos ingleses e o Inglês tornou-se na sua língua principal, assim como a dos seus irmãos. As crianças falavam Inglês com a mãe e Alemão com o pai.
Ella (sentada com a irmã Mae nos braços) com os seus irmãos Irene, Ernesto, Alice (Alexandra da Rússia) e Vitória
No Outono de 1878, quando Isabel tinha 14 anos, a Difteria abalou a casa Hesse matando a sua irmã mais nova, Maria (conhecida na família por Mae) no dia 16 de Novembro desse ano. Isabel foi a única dos irmãos que não apanhou a doença e foi enviada para a casa dos avós paternos para não ser afectada. Enquanto lá estava, no dia 14 de Dezembro, a sua mãe sucumbiu à doença depois de cuidar de todos os filhos durante essas semanas. Quando Isabel foi autorizada a regressar à sua casa, descreveu a reunião como “terrivelmente triste” e disse que tudo parecia “um pesadelo horrível”.
Isabel (em pé na direita) com as irmãs puco depois da morte da mãe
Durante a sua juventude, Isabel era sedutora e tinha uma personalidade muito aberta. Muitos historiadores consideram-na uma das mulheres mais bonitas da Europa nesta altura. Foi durante esta época que ela chamou a atenção do seu primo mais velho, o futuro kaiser Guilherme II da Alemanha. Ele estudava na Universidade de Bonn e não era raro visitar os seus parentes de Hesse aos fins-de-semana. Durante estas visitas ele apaixonou-se por Isabel e escreveu-lhe numerosos poemas de amor que lhe enviava. Embora se sentisse elogiada pela atenção que recebia por parte do primo, Isabel não se sentia atraída por Guilherme e rejeitou-o educadamente. O futuro kaiser ficou frustrado e decidiu desistir da Universidade para voltar a Berlim.
Isabel durante a juventude
Além de Guilherme II, Isabel tinha muitos admiradores, entre os quais o Lord Charles Montagu, Segundo filho do 7º Duque de Manchester e Henry Wilson que se tornaria num famoso soldado.
Outro dos seus admiradores era o futuro Frederico II, Grão-Duque de Baden e primo de Guilherme. A Rainha Vitória descrevia-o como “tão bom e estável”, com “uma posição tão segura e feliz” e quando Isabel o rejeitou, a Rainha “arrependeu-se de o ter dito.” A avó de Frederico, a Imperatriz Augusta, ficou tão furiosa com a rejeição de Isabel que passou muito tempo sem a conseguir perdoar.
Ella em 1883
Eventualmente foi um Grão-Duque russo que conquistou o coração de Isabel. A tia-avó de Isabel, nascida em Hesse, era uma visita frequente no condado e, durante as suas visitas, era sempre acompanhada pelos seus filhos mais novos, Sergei e Paulo. Isabel conhecia os dois irmãos desde bebé, mas achava-os demasiado arrogantes e reservados. Sergei, particularmente, era um jovem calado, muito religioso e apaixonou-se por Isabel quando a viu pela primeira vez depois de muitos anos. Mais tarde ele pediu-lhe para casar com ele, mas, a principio, Isabel não se sentia apaixonada por ele.
A opinião da Princesa mudou quando Sergei perdeu os seus pais no mesmo ano. Maria Feodorovna de Hesse morreu de doença e Alexandre II foi morto num atentado à bomba em São Petersburgo quando se encontrava a caminho de uma reunião que tornaria a Rússia numa monarquia constitucional.
Ella com Sergei
O Grão-Duque encontrava-se em Roma quando o seu pai foi assassinado e, por isso, foi-lhe poupada a visão do seu corpo mutilado. Sergei admirava o seu pai e a sua morte fez com que se tornasse num selvagem anti-revolucionário que não escondia o ódio que sentia pelas pessoas que tinham ignorado os esforços de Alexandre II em liberalizar o país. A morte da sua mãe foi também difícil uma vez que ambos eram devotos um ao outro. Estes eventos mudaram-no e Isabel passou a vê-lo “com outros olhos”, uma vez que compreendia a dor pela qual ele passava depois de ter perdido a sua própria mãe. Outras parecenças como a arte e a religião aproximaram-nos cada vez mais. Há quem diga que ele gostava particularmente da sua personalidade que o fazia recordar a sua adorada mãe. Por isso, quando Sergei voltou a pedir a mão de Isabel em casamento no casamento da sua irmã com o Principe Louis de Battenberg, ela aceitou e ambos tiveram autorização do pai dela para se casarem. A Rainha Vitória não ficou particularmente encantada com a união.
Isabel e Sergei em 1892
O noivado da Princesa Isabel foi curto, uma vez que Sergei queria que o casamento se realizasse o mais rapidamente possivel e, apesar do pai dela não aceitar completamente a sua pressa, foi forçado a lidar com ela quando em Junho de 1884 chegou a São Petersburgo com Isabel e as suas duas irmãs mais novas Irene e Alice.
A Rússia, com a sua vastidão, a sua atmosfera estranha e inexplicável, surpreendeu as duas princesas mais velhas que, à excepção da Inglaterra, tinham visto muito pouco do mundo. As enormes praças e largas ruas de São Petersburgo, o Neva, maior do que qualquer rio inglês ou alemão, as cúpulas e espirais douradas das catedrais, a grandeza do Palácio de Inverno e a graciosidade da alta sociedade eram tão únicos e inesperados que elas se sentiram desorientadas e confusas, incapazes de se acostumarem ao ambiente estranho e pouco familiar que as rodeava.Elas sentiam-se intimidadas pelas multidões de criados e damas-de-companhia que as rodeavam sem descanço, pelos conselheiros da Corte que davam diferentes instruções e, acima de tudo, pelo irmão de Sergei, o Czar Alexanre III. O imperador era alto, tinha ombros largos, uma voz alta e mãos que conseguiam endireitar uma ferradura sem grande esforço. Apenas Alice que tinha apenas 12 anos na altura parecia não ter nenhuma apreensão. Ela não via nada de assustador, apenas “os corredores vastos e inspiradores do Palácio de Inverno com os seus quilómetros de chão dourado” e passou a maior parte do tempo a jogar às escondidas entre os pilares com o filho mais velho de Alexandre III que era, normalmente, tímido e indiferente com estranhos, mas achava aquela menina com os seus caracóis loiros uma companhia encantadora e com quem se sentia perfeitamente relaxado.
Isabel (2ª da direita) e as irmãs pouco antes do noivado
O Grão-Duque de Hesse não tinha permitido que a sua filha mudasse de religião antes do casamento, por isso houve uma cerimónia Luterana e uma Ortodoxa. Quando finalmente ambas as cerimónias acabaram e uma Isabel pálida teve de se despedir do seu pai e das irmãs, sentiu-se que ela estava aterrorizada com a perspectiva de ser forçada a viver uma nova vida num país desconhecido, rodeada de estranhos, novas ligações e com um marido que, no fundo, mal conhecia.
"Ella" no dia do casamento
Não existe nada que mostre se a nova Grã-Duquesa se sentia infeliz. Se sofria, fazia-o em silêncio, sem se queixar uma única vez. No entanto o sentimento geral na sociedade de São Petersburgo era de simpatia para com aquela jovem ingénua que se tinha casado com um homem conhecido pela sua rudeza e que se dizia esconder uma vida de imoralidade viciosa. Até a Rainha Maria da Roménia que, em criança, adorava o seu tio Sergei, confessou que ele sempre tinha sido um pouco assustador e que os seus olhos eram cinzentos e frios, os lábios finos e tinha sempre uma expressão dura.
Sergei era considerado um homem bonito, sempre vestido no seu uniforme verde-escuro que lhe dava um aspecto de respeito e conservadorismo. As pessoas que o conheciam diziam que sempre que estavam ao pé dele sentiam sempre que, por detrás da sua expressão controlada, havia uma camada secreta de raiva e frustração.Ele adorava a sua mulher, venerava a sua beleza e cobria-a de presentes como as mais caras jóias e peles, mas era frequente ele censurar o comportamento dela em público se ela se esquecesse das suas instruções ou cometesse o que ele considerava ser uma falta nas regras de etiqueta.
Sergei e Ella
Ninguém que via a Grã-Duquesa Isabel naqueles dias se esquecia dela. “Ela era a criatura mais bela de Deus que eu alguma vez vi”, escreveu um escritor contemporâneo. No entanto, embora se tivessem deixado levar pela sua beleza e apesar de ela ser jovem, alegre e uma pessoa que gostava de desfilar as jóias e roupas que o seu marido lhe oferecia, nunca houve nenhum escândalo ligado ao seu nome.
Ella em 1889
A Grã-Duquesa Isabel converteu-se à Igreja Ortodoxa apenas dois anos depois do casamento, muito contra a vontade do seu pai. Quando o Grão-Duque de Hesse soube que o Czarevich Nicolau se tinha apaixonado pela sua filha mais nova, a Princesa Alice, ele recusou-se a permitir que outra filha sua abdicasse da sua fé luterana. A Rainha Vitória também não aprovava estas mudanças de religião e não gostava particularmente da ideia de ver a sua neta favorita noiva do herdeiro ao trono russo. Ela tinha-o achado charmoso, simples e natural quando ele visitara Windsor, mas ao mesmo tempo tinha ficado com a sensação de que ele tinha falta de estabilidade e não conseguia tomar decisões por si mesmo. O Imperador e a Imperatriz partilhavam a sua apreenção, mas por razões completamente diferentes, A Princesa Alice não tinha ficado muito bem vista quando visitara São Petersburgo. Alexandre III achou-a uma alemã típica e Maria Feodorovna ficou incomodada com a sua apatia, além disso ela queria ver o seu filho casado com a filha do conde de Paris e não via como aquela pequena Princesa de Hesse com um feitio tímido e quase hostil poderia ser uma boa esposa.
Isabel com o seu sobrinho Nicolau durante uma peça de teatro
Tal como o seu avô, Alexandre II, o Czarevich estava determinado a conseguir aquilo que queria. “O meu sonho é casar-me com a Alice de Hesse”, escreveu ele no seu diário no dia 21 de Dezembro de 1889.
Isabel teve uma grande responsabilidade para com a relação do seu sobrinho com a sua irmã. Foi ela que incentivou o amor entre ambos e convenceu a Rainha Vitória (que queria casar Alice com o seu neto Alberto) a aceitar uma possível união entre a sua neta favorita e o Czarevich da Rússia.
Finalmente em Abril de 1894, o Imperador, que já começava a ceder, deu a sua permissão para que houvesse noivado e o seu filho correu até Coburg onde se realizaria o casamento do irmão de Isabel e Alice, Ernesto, com a Princesa Vitória Melita, filha do duque de Edimburgo. Nicolau pediu Alice em casamento, mas como esposa do Czarevich e herdeiro ao trono, a Princesa sabia que teria de mudar de religião e, a principio, não conseguiu decidir-se se aceitaria o pedido ou não. “A pobrezinha chorou muito,” escreveu Nicolau no seu diário onde descreveu a conversa que teve com ela que se prolongou até à meia-noite. No dia 8 de Abril, no entanto, chegou “um dia lindo e inesquecível” quando o jovem casal foi até ao quarto da Rainha Vitória de mão dada para lhe comunicar que tinham chegado a um acordo. “Fiquei bastante surpreendida”, escreveu a Rainha Vitória no seu diário, “Pensava que, por muito que o Nicky quisesse ir em frente com isto, a Alice não se iria decidir.”
O casamento realizou-se em Novembro e Alexandra foi coroada Czarina juntamente com Nicolau que passou a ser o Czar de Todas as Rússias.
Isabel (direita) com a irmã Alexandra e o cunhado Nicolau
Em 1891, Isabel e Sergei que não tinham filhos practicamente adoptaram os seus sobrinhos Maria e Dmitri Pavlovich, filhos do irmão de Sergei, Paulo. A mãe das crianças tinha caído quando tentava saltar para um barco em andamento e estava grávida de Dmitri. O bebé nasceu prematuro e a mãe morreu poucas horas depois. O pai ficou em estado de choque com a morte da esposa e aceitou de bom grado a ajuda do irmão e da cunhada. Muitos não acreditavam que o bebé fosse sobreviver, mas Sergei ajudou-o, dando-lhe os banhos prescritos pelos médicos, cobrindo-o com mantas de algodão e enchendo o seu berço com garrafas de água quente para manter a temperatura do bebé regular. “Estou a gostar muito de tomar conta do Dmitri,” escreveu Sergei no seu diário. Mais tarde Dmitri seria um dos assassinos de Rasputine, juntamente com o Príncipe Felix Yussopov.
Nesse ano Sergei foi também nomeado Governador de Moscovo e a família mudou-se para a nova cidade.
Ella com Dmitri ainda criança
O Jubilo de Diamante da Rainha Vitória em 1897 reuniu novamente a grande família em Londres. Seria a última vez que muitos dos seus netos e bisnetos veriam a pequena e velha mulher que durante muitos anos tinha sido o centro pelo qual as suas vidas dependiam para todo o tipo de decisões. Todos os convidados trouxeram presentes que incluíram uma corrente de diamantes das suas filhas mais novas, um alfinete de diamante do Príncipe e da Princesa de Gales, um pendente de diamantes e safiras do Grão-Duque Sergei e da Grã-Duquesa Isabel entre outros. A Rainha gostou de ver a sua família e de ser recebida festivamente pelos seus súbditos quando desfilou numa carruagem pelas ruas de Londres, no entanto esteve muito cansada durante os banquetes e cerimónias que se seguiram e começou a sentir-se ansiosa quando não reconheceu algumas das caras dos netos e bisnetos que falavam com ela. A rainha estava também preocupada com os problemas que afectavam a família na altura. O casamento do Grão-Duque de Hesse, Ernesto, com a filha do Duque de Edimburgo não estava a resultar, o Kaiser Guilherme II parecia cada vez mais zangado com a família por se sentir excluído e, quando o Imperador e a Imperatriz da Rússia a tinham visitado em Balmoral no ano anterior com a sua filha, ela achou que a “querida e simples Alicky” estava muito mudada e temia que a sua nova posição a estivesse a tornar demasiado imperial, o que a magoou muito.
No dia 28 de Junho, o Grão-Duque Sergei e a esposa despediram-se da Rainha Vitória para regressarem à Rússia. A Grã-Duquesa Isabel não conseguiu evitar as lágrimas, uma vez que sabia que aquela seria uma das últimas vezes que veria a sua avó que tinha mantido a família junta durante muitos anos e tinha sido a sua mãe substituta e, acima de tudo, uma grande amiga.
A desastrosa guerra Russo-Japonesa de 1904 trouxe uma tarefa à Grã-Duquesa que ela cumpriu de uma forma que deixaria orgulhosa a sua avó Vitória se ela fosse ainda viva. Como esposa do Governador de Moscovo, Isabel era líder das organizações da Cruz Vermelha da cidade. Ela enviou comboios-ambulância e equipamento para os soldados enquanto organizava salas de trabalho no Palácio do Kremlin e estava lá todos os dias a supervisor e dar motivação as centenas de mulheres de todos os estratos sociais que trabalhavam lá a empacotar material bélico, medicamentos, comida e roupa para os soldados na frente de combate. Vestia-se sempre de forma simples de azul ou cinzento, estava sempre lá de boa-vontade, tinha sempre um sorriso nos lábios ou um elogio para quem trabalhava, nunca perdia a paciência mesmo quando se cometiam erros e estava sempre pronta para executar os trabalhos mais difíceis.
Ella durante a Guerra Russo-Japonesa
No dia 4 de Fevereiro de 1905 quando Isabel estava a caminho dos seus quartos privados no palácio onde vivia com o marido e os sobrinhos, ouviu uma explosão que partiu todos os vidros da sua casa. Depois de muitos anos ela sabia que aquilo que temia (e o seu marido esperava) tinha acontecido. Durante muitos anos Sergei tinha-a proibido de andar na mesma carruagem dele e justificava-o dizendo que sabia do ódio que os habitantes de Moscovo sentiam por ele.
Sem esperar por alguém para perguntar o que tinha acontecido ou sequer vestir um casaco, Isabel desceu as escadas a correr até chegar ao dia frio de Inverno e seguiu um rasto de fumo e cheiro a pólvora que a levaram até à carruagem despedaçada do seu marido da qual apenas restavam os corpos mutilados dos cavalos. Quando chegou os guardas apressavam-se a cobrir o que restava do corpo do marido com os seus casacos.
Começaram a cair-lhe lágrimas e ela ajoelhou-se junto da mancha de sangue na neve, com a multidão a começar a reunir-se à sua volta, olhando horrorizada o macabro espectáculo enquanto a polícia e os soldados procuravam o assassino por entre as pessoas que se encontravam perto do palácio. Algumas horas antes ele tinha saído de casa com uma expressão preocupada, mas a assegurar-lhe que não havia nada com que se preocupar. Embora não tivessem um casamento perfeito, ele era o seu marido que sempre a tinha ajudado a adaptar-se à vida na Rússia e a tratava bem. Ele estava consciente do perigo que corria, mas mesmo assim nunca abandonou as suas responsabilidades e deu o seu melhor no cargo que ocupava. Contudo a sua austeridade quase fanática e a sua crueldade vingativa em certas ocasiões tinham feito com que ganhasse muitos inimigos. Ele era um anti-revolucionário e um autocrata quase tirano, mas ela estava casada com ele há vinte anos e era das únicas que conhecia toda a sua personalidade.
Quadro de Isabel
Nessa tarde, apesar da sua dor pessoal, Isabel visitou o cocheiro da carruagem do marido que estava gravemente ferido. Ele olhou-a nos olhos e perguntou, “Como está o seu marido?” Muito gentilmente a cara dela recompôs-se e respondeu, “Foi ele que me enviou para o ver” e ficou sentada na cama dele até o cocheiro morrer. Ela implorou a Nicolau para que não matasse o assassino, mas a sua petição foi recusada e ela foi visitar o homem à prisão. Ela tratou-a com desprezo e mantinha-se teimosamente cínico. Não se mostrou arrependido pelo que tinha feito e orgulhava-se da sua acção dizendo que tinha destruído um homem que era um inimigo do povo.
A partir desse dia, Isabel nunca mais comeu carne nem peixe. Quando chegou a casa dividiu as jóias que o seu marido lhe tinha oferecido em três e deu algumas aos seus sobrinhos Maria e Dmitri Pavlovich, devolveu as jóias da coroa e vendeu o resto. O dinheiro que ganhou das jóias foi para a caridade e para o Convento de Maria e Marta em Moscovo que passou a visitar com muita frequência, sempre de luto.
A alta sociedade de São Petersburgo nunca mais a voltou a ver. Só muito raramente Isabel visitava a irmã e a família em Czarskoe Selo e, em 1910, decidiu juntar-se definitivamente à Irmandade de Marta e Maria, doando todas as roupas e pedaços de joalharia que ainda lhe restavam. Não ficou nada, nem sequer com a aliança de casamento. “Este véu,” disse o Bispo Triphonius quando ela entrou no Convento, “vai-te esconder do mundo, e o mundo vai estar escondido de ti, mas vai ser uma testemunha dos teus bons trabalhos que irão brilhar perante Deus e glorificar o Senhor.” A sua nova vida era passada nos quartos pequenos do Convento, apenas mobilados com cadeiras brancas. Ela dormia numa cama de madeira sem colchão e com uma almofada dura. Queria sempre as tarefas mais difíceis, chegando a cuidar de 15 doentes na ala hospitalar sozinha e raramente dormia mais de três horas. Quando um paciente morria, ela passava a noite inteira junto dele (de acordo com a fé Ortodoxa) a rezar intermitentemente sobre o corpo morto.
Quando ela se tornou freira, a sua sobrinha Maria Pavlovna casou-se e o sobrinho Dmitri passou a viver com o Czar e a sua família.
Isabel como freira
Apesar de tudo, ela nunca se tornou rígida, severa ou deprimida e até manteve algum do seu divertimento que a tinha tornado encantadora quando jovem. Uma vez quando a sua irmã, a Princesa Vitória, estava no convento de visita com a sua segunda filha, a Princesa Louise, a porta do quarto delas abriu-se de manhã cedo e uma pequena cabeça espreitou a rir-se e a dizer “Olá”. Abismada, Vitória pensou tratar-se de um rapaz mal-educado que tinha conseguido entrar no convento e estava a invadir o seu quarto, mas depressa percebeu aliviada que se tratava da sua irmã mais nova, sem o seu véu e com o cabelo curto.
Depois de entrar no convento, Isabel apenas visitou São Petersburgo em duas ocasiões: quando se celebraram os 300 anos de poder dos Romanov em 1913 e quando rebentou a Primeira Guerra Mundial em 1914 onde ajudou a sua irmã com os planos de ajuda a soldados feridos.
"Ella" com a família imperial
Durante muitos anos, as instituições apoiadas por Isabel ajudaram os pobres e os órfãos de Moscovo. Ela e outras freiras da sua irmandade trabalhavam com os pobres todos os dias e foram responsáveis pela abertura de discussão sobre a possibilidade de permitir o acesso de mulheres a posições de maior importância dentro da igreja. A Igreja Ortodoxa recusou esta ideia, mas abençoou e encorajou os esforços de Isabel para com os pobres.
Em 1917 rebentou a revolução e, as ligações de Isabel à família imperial causaram-lhe muitos problemas.
Na Primavera de 1918, Lenine ordenou à Cheka que prendesse Isabel. Mais tarde ela seria exilada, primeiro em Perm e depois em Ekaterinburgo onde também se encontrava a sua irmã Alexandra e a sua família, mas nenhuma das duas sabia da presença da outra na cidade. Mais tarde ela iria juntar-se a outros membros da família Romanov como o Grão-Duque Sergei Mikhailovich, o Príncipe João Constantinovich, o Grão-Duque Constantino Constantinovich, o Grão-Duque Igor Constantinovich e Vladimir Pavlovich Paley. Com os membros da família vieram o secretário de Sergei, Feodor Remez e Varvara Yakovlena, uma freira da irmandade de Isabel. Todos eles foram levados para Alapaevsk no dia 20 de Maio de 1918 onde foram presos na antiga Escola Napolnaya nos arredores da cidade.
Isabel com a irmã Vitória em 1916
Ao meio-dia do dia 17 de Julho, o Oficial da Checa, Petr Startsev e alguns trabalhadores bolcheviques chegaram à escola. Tiraram aos prisioneiros todo o dinheiro e valores que tinham e anunciaram-lhes que seriam transferidos nessa mesma noite para uma fábrica em Siniachikhensky. Os guardas do Exercito Vermelho receberam ordens para abandonar o local e foram substituídos por homens da Checa. Nessa noite os prisioneiros foram acordados e levados em carros numa estrada para Siniachikha. A cerca de 18 quilómetros de Alapaevsk havia uma mina abandonada com 20 metros de profundidade. Foi aqui que pararam. Os homens da Checa espancaram todos os prisioneiros antes de os atirar para a mina. Ainda antes de ser atirado, o Grão-Duque Sergei Mikhailovich foi morto a tiro por contestar e tentar espancar os guardas. Isabel foi a primeira a ser atirada. Apesar da profundidade apenas Feodor Remez morreu imediatamente.
De acordo com o testemunho de um dos assassinos, Isabel e os outros prisioneiros sobreviveram à queda na mina, o que levou o comandante a atirar as granadas. Depois das explosões, ele disse ter ouvido Isabel e os outros cantarem um hino russo do fundo da mina. Enervado, o comandante atirou uma nova rajada de granadas, mas continuou a ouvir-se os prisioneiros cantar. Finalmente foi atirada uma grande quantidade de arbustos para tapar a mina e o comandante deixou um guarda a vigiar o local antes de partir.
Na manhã de 18 de Julho de 1918, o chefe da Checa de Alapaevsk trocou uma série de telegramas com o chefe do Soviete Regional de Ekaterinburgo que tinha estado envolvido no massacre da família imperial. Estes telegramas tinham sido planeados com antecedência e diziam que a escola tinha sido atacada por um “gang desconhecido”. Pouco tempo depois Alapaevsk caiu nas mãos do Exército Branco.
No dia 8 de Outubro de 1918, os Brancos descobriram os restos mortais de Isabel e dos seus companheiros dentro da mina onde tinham sido assassinados. Isabel tinha morrido devido a ferimentos resultantes da sua queda de vinte metros, mas tinha ainda encontrado forças para fazer uma ligadura na cabeça do Príncipe Ioann. Os seus restos mortais foram retirados da mina e levados para Jerusalém onde estariam longe das mãos dos bolcheviques. Até hoje continuam enterrados na Igreja de Maria Madalena.
Isabel foi canonizada pela Igreja Ortodoxa For a da Rússia em 1981 e pela Igreja Ortodoxa Russa em 1992 como Nova Mártir Isabel. Os principais templos que lhe são dedicados são o Convento de Marfo-Mariinsky que ela fundou em Moscovo e o Convento de Santa Maria Madalena no Monte das Oliveiras, que ela e o marido ajudaram a construir. Era é uma das mártires do século XX que está representada numa das estátuas acima da Grande Porta Oeste na Abadia de Westminster em Londres, Inglaterra.
Outra estátua de Isabel foi construída após a queda do Comunismo no jardim do seu convento em Moscovo. Na inscrição pode ler-se “À Grã-Duquesa Isabel Feodorovna: Com arrependimento.”
Estátua de Isabel no Convento de Maria e Marta em Moscovo
Isabel Feodorovna foi assassinada por bolcheviques no dia 17 de Julho de 1918 quando tinha 54 anos
A Grã-Duquesa Olga Alexandrovna da Rússia nasceu no dia 13 de Junho de 1882 e foi a última Grã-Duquesa da Rússia Imperial durante o reinado do seu irmão mais velho, Nicolau II. O seu pai era o Czar Alexandre III da Rússia e a sua mãe era filha do rei Cristiano IX da Dinamarca, Maria Feodorovna. Criada no Palácio de Gatchina nos arredores de São Petersburgo, a jovem Grã-Duquesa era mais próxima do seu irmão “Misha”, o Grão-Duque Miguel Alexandrovich. Era uma talentosa pintora e criou mais de 2000 quadros.
Olga (no colo da mãe) com os irmãos
Nascida no dia 13 de Junho de 1882 no Palácio de Peterhof, Olga era a filha mais nova de Alexandre III e a única a nascer durante o seu reinado. A sua mãe, seguindo o conselho da sua irmã, a futura rainha Alexandra do Reino Unido, decidiu contratar uma governanta inglesa e então Elizabeth Franklin chegou à Rússia. Sobre ela, Olga disse mais tarde:
“A Nana foi a minha protectora e conselheira durante a infância e a minha leal companheira nos anos que se seguiram. Não faço ideia do que teria feito sem ela. Tudo o que ela fez por mim permitiu-me sobreviver durante o caos dos anos de revolução. Ela era eficaz, corajosa e perspicaz; estava lá para ser a minha ama, mas a sua influência chegou até aos meus irmãos e irmã.”
Olga durante a infância
A Grã-Duquesa foi criada longe do perigo de São Petersburgo, no Palácio de Gatchina e sempre se referiu aos seus tempos de infância como os melhores da sua vida. Contudo, Olga Alexandrovna e os seus irmãos não estavam habituados a um estilo de vida demasiado sumptuoso durante os seus anos de infância e juventude, uma vez que os seus pais, governantes e tutores lhes exigiam disciplina e rigidez.
Olga disse sobre Gatchina:
“Como nos divertimos lá! A Galeria Chinesa era perfeita para jogar às escondidas! Bastava encolher-nos atrás de um vaso chinês enorme qualquer. Havia tantos, alguns que tinham o dobro do nosso tamanho. Suponho que valiam imenso, mas não me lembro de algum de nós alguma vez os estragar.”
A avó paterna das crianças, Maria de Hesse e do Reno, tinha introduzido costumes ingleses na corte russa. Olga comentou:
“Crescemos todos com uma dieta rigorosa. Para o lanche tinhamos geleia no pão e manteiga e bolhachas inglesss – bolo era servido muito raramente. Gostávamos da forma como a nossa papa-de-aveia era cozinhada – a Nana deve-os ter ensinado a fazê-la. O nosso jantar de marca parecia ser bife com ervilhas e batatas assadas, ou então costeletas, mas nem a Nana me conseguiu fazer gostar delas, principalmente quando estavam demasiado assadas!
Havia pequeno-almoço, almoço, lanche, jantar e ceia – todos servidos de acordo com as normas rigorosas do palácio e algumas nem sequer tinham mudado desde os tempos de Catarina, a Grande, como os pequenos bolos de manteiga suecos que eram servidos todas as noites durante a ceia. Eram do mesmo tipo daqueles servidos em 1788."
Olga na Galeria Chinesa
O sistema educacional pelo qual a Grã-Duquesa e os seus irmãos foram educados era de grande exigência. Os tutores imperiais ensinavam as disciplinas principais como Russo, Literatura, Matemática, História e Línguas com grande profundidade. Embora todos os irmãos tivessem as suas aulas na mesma sala, a “sala das crianças”, o irmão mais velho de Olga, Nicolau, estava a ser ensinado a um nível superior. Nicolau estava a aprender outras disciplinas e matérias que lhe seriam mais úteis como futuro Czar. As actividades físicas como as equestres também começavam a ser ensinadas cedo, o que, eventualmente, tornou os jovens Romanov em cavaleiros experientes.
A jovem Grã-Duquesa passava as férias em Olgino, uma propriedade na província de Voronezh no Sudoeste da Rússia. Aí ela praticava e exemplificava a sua fé, a Igreja Ortodoxa Russa, criando ícones religiosos e abençoando os habitantes e edifícios da aldeia. Foi aí que ela pintou e desenhou muitos dos seus trabalhos originais que, mais tarde, vendeu aos seus amigos e vizinhos em Ontário no Canadá. Outras das actividades preferidas em Oligno eram cavalgar, montar e nadar. A Grã-Duquesa tinha uma forte relação com os habitantes da aldeia, mas essa relação foi-se tornando mais amarga à medida que aumentavam os descontentamentos que levaram à Revolução Russa.
Olga com os irmãos Jorge e Miguel durante as férias em Olgino
A Grã-Duquesa foi descrita como sendo muito simples e indiferente a pedras preciosas e jóias caras que continuam a ser consideradas uma imagem de marca dos Romanov. Mesmo assim, durante a sua vida, a mais jovem irmã do Czar acumulou uma colecção de pedras preciosas inestimável que foi, na sua maioria confiscada pelos revolucionários russos.
A sua infância foi muito feliz. O seu pai, Alexandre III, apoiava-se muito nela e no seu irmão Miguel que eram os mais novos dos cinco filhos e os que passavam mais tempo em casa devido às suas idades. Eles costumavam dar grandes passeios nas florestas que cercavam o Palácio de Gatchina nos quais Alexandre ensinou Olga e Miguel a fazer fogueiras e a escolher cogumelos. Estas caminhadas davam a Alexandre uma rara pausa nas suas responsabilidades como Imperador da Rússia e criaram uma ligação especial entre os três. Os dois irmãos guardaram boas recordações destes passeios que ambos preservaram durante as suas vidas e Olga sempre se referiu a estes momentos como os mais felizes da sua vida.
“O meu pai era tudo para mim. Mesmo quando estava imerso no seu trabalho, ele tirava sempre meia-hora do dia para estar connosco. Quando cresci, os meus privilégios aumentaram. Lembro-me do primeiro dia em que me deixou colocar o selo imperial num dos muitos envelopes que se espalhavam pela secretária dele. Era um selo pesado de ouro e cristal, mas senti-me muito orgulhosa e feliz nessa manhã. Eu ficava espantada com a quantidade de trabalho que o meu pai tinha todos os dias. Acho que o Czar era o homem que mais trabalhava na Terra. Para além das audiências e funções de estado, todos os dias ele tinha de analisar montanhas de editoriais, decretos de lei e relatórios que, depois, tinha de assinar. Muitas vezes o meu pai escrevia os seus comentários furiosos nas margens dos documentos: “Idiotas! Lerdos! Que besta que este é!…” Uma vez mostrou-me um album velho cheio de projectos de uma cidade imaginária chamada Mopsopolis, habitada por cães. Mostrou-me isto em segredo e eu fiquei encantada por ele ter partilhado o seu segredo de infância comigo.
(…)
O meu pai tinha a força de Hércules, mas nunca a mostrava quando outras pessoas estavam presentes. Costumava dizer-nos que conseguia dobrar ferraduras e pratos com muita facilidade, mas não se atrevia a fazê-lo porque a nossa mãe ficaria furiosa. No entanto, uma vez, quando estávamos no escritório, ele dobrou um limpador de cinzas feito de ferro e depois voltou a endireitá-lo. Lembro-me de que, enquanto o fazia, manteve sempre os olhos presos na porta para o caso de alguém entrar!”
Miguel e Olga
Em finais de 1888, Olga deixou Gatchina pela primeira vez quando toda a família imperial foi visitar o Cáucaso. No dia 29 de Outubro o longo comboio imperial estava a viajar a grande velocidade para Kharkov na Ucrânia. Um dos passageiros recordou o que aconteceu:
“Por volta da uma da tarde o comboio estava a aproximar-se da cidade de Borki. O Imperador, a Imperatriz e quatro dos seus filhos estavam a almoçar no vagão-restaurante. Estavam a trazer o pudim quando o comboio começou a estremecer violentamente e, depois, estremeceu novamente e todos caíram ao chão. Dentro de um segundo ou dois, o vagão-restaurante estava revirado com o pesado tecto de ferro cravado a apenas alguns centímetros das cabeças dos passageiros. (…)
“A explosão tinha separado as rodas e o chão do resto do vagão. O Imperador foi o primeiro a rastejar de debaixo do tecto. Depois disso, segurou-o alto o suficiente para que a sua mulher, filhos e outros passageiros pudessem sair em segurança. Foi um esforço verdadeiramente herculeano da parte do Alexandre e, apesar de ninguém se ter apercebido disso na altura, custou-lhe a sua saúde."
Olga (entre os pais) com a família
Alexandre III morreu quando Olga tinha apenas 12 anos. Ela ainda era uma criança e sofreu muito com a perda do pai. Assim que recuperou da morte prematura do marido, Maria Feodorovna viu-se num dilema para encontrar uma forma de compensar a falta de um pai durante as adolescências de Olga e Miguel. Naturalmente virou-se para o seu filho mais velho, o novo Imperador, para que fosse ele a assumir esse papel. Afinal agora era ele o “chefe” da família Romanov. Talvez Nicolau tivesse feito o melhor que podia, mas ele tinha as suas próprias preocupações e responsabilidade com o seu novo cargo, mulher e filha. Mesmo que tivesse tempo, não haveria hipótese de que Olga e Miguel tivessem visto o seu irmão mais velho como um substituto para o seu pai. Ele e Nicolau eram completamente diferentes em aspecto, humor e personalidade.
Olga com a mãe e o irmão Nicolau II
Maria era, até certo ponto, uma mãe fria e distante. Ela sabia-o e isso incomodava-a. A sua falta de afecto não significava que não gostasse dos filhos, muito pelo contrário: era uma questão de prioridades. O mais importante para Maria era cuidar do seu marido, a seguir estava o seu papel como Imperatriz da Rússia e o resto da família vinha apenas depois disso. Isto devia-se ao facto de Maria se sentir um tanto desconfortável junto dos seus filhos. Ela achava difícil falar com eles e mantinha-os segregados no estilo de cida que tinha escolhido para eles. Maria via os seus filhos todos os dias, mas, ao contrário da sua irmã Alexandra, nunca teve lutas de almofadas com eles. O “habitat natural” dela era o mundo da aristocracia de São Petersburgo onde havia danças, entretenimento e conversas inteligentes. A Imperatriz brilhava na sociedade, movendo-se entre os seus círculos com uma facilidade inigualável. Apesar de ser baixa, ela movia-se de forma a que ninguém duvidasse da sua força e perseverança. Era uma mulher forte e até rígida. Maria estava habituada a ter tudo feito à sua maneira. Depois da morte do marido, isso tornou-se ainda mais evidente, uma vez que ninguém podia (ou se atrevia) a contrariar os seus desejos. Os criados achavam-na dura e difícil de servir.
Olga com a mãe e os irmãos Miguel e Jorge
Maria gostava de ter Olga ao pé de si e tratava-a cada vez mais como uma criada à medida que ela ia crescendo, ao mesmo tempo que esperava dela o amor e devoção de uma filha. Era natural que Olga, uma adolescente a crescer, preferisse a companhia da sua governanta, do cão e dos tutores à da sua mãe. Isto magoava Maria, mas encaixava-se com a sua inclinação de ter outras pessoas a educar a sua filha.
Olga com a sua governanta Elizabeth Franklin
A Grã-Duquesa começou a pintar muito cedo, mas foi apenas durante os seus últimos anos de adolescência que o seu talento começou a prosperar. Ela também tinha um lado benevolente, fundando programas de caridade na aldeia de Olgino que funcionavam junto à propriedade dos pais e ajudou a melhorar as opções básicas de medicina e educação dos habitantes locais. Também contribuía ou era dona de muitas organizações e estabelecimentos de caridade desde muito nova. Contribuía principalmente para orfanatos, casas da misericórdia e escolas de raparigas. Deu uma ajuda considerável aos artistas pobres, mas talentosos e alguns tornaram-se famosos graças a si.
Olga durante a adolescência
O seu benefício na aldeia rural de Olgino inspirou muitas fundações que começaram os seus trabalhos de caridade por todo o Império Russo. Chegou mesmo a haver uma ocasião em que Olga substituiu a professora da escola de Olgino com dinheiro do seu próprio bolço, fundou e visitou o Hospital Nacional da aldeia e continuou a dar consideráveis contribuições às famílias mais pobres das regiões que cercavam a sua aldeia de férias. No hospital, ela aprendeu a administrar tratamento médico e a tratar de doentes do médico local. Através do seu treino na medicina mais tarde, ela conseguiu tornar-se numa enfermeira, uma capacidade que lhe seria muito útil mais tarde. A Grã-Duquesa continuou o seu apoio à Igreja Ortodoxa Russa e aos serviços religiosos realizados em Olgino. Mesmo quando estava de férias, Olga queria continuar a ter as suas lições diárias que eram, normalmente, completadas com aulas de desenho e pintura.
“Mesmo durante as minhas lições de geografia e aritmética, o professor deixava-me ficar sentada com o pincel na mão. Conseguia prestar muita mais atenção quando estava a desenhar flores selvagens num canto.”
Olga durante a adolescência (Nicolau II e Alexandra na direita)
Durante a sua vida, Olga criou uma vasta colecção de arte do seu tempo na Rússia, Dinamarca e, mais tarde, Canadá, que, eventualmente, reunia mais de 2000 exemplares. Na Rússia e na Dinamarca preferia desenhar coisas relacionadas com a Natureza como flores e paisagens. A Grã-Duquesa também descobriu que os seus quadros podiam ser uma boa fonte de rendimento e começou a vendê-los em Copenhaga, na Dinamarca. Olga também elogiava a paisagem da sua pequena vila no Canadá numa série de cartas que enviou para a sua amiga dinamarquesa, Alexandra Iskra:
“Tudo era maravilhoso, tudo cheirava muito bem. Na floresta cheirava mesmo como a Rússia com as bétulas e outros tipos de arvores a florescer. Depois, quando estávamos a passear de carro pelas casas e jardins de alguns amigos, vimo-los e depois saímos do carro. Que lindo jardim que temos! Lírios do vale, lilás e todos os tipos de cheiros de plantas no ar. Caminhamos pelos jardins que rodeiam a casa e do outro lado vimos uma ravina funda toda coberta de plantas. Conseguimos ver a paisagem até muito longe
Pinturas de Olga
Olga conhecia os Oldenburg, uma das famílias aristocráticas mais ricas da Rússia, há muitos anos. Eles tinham um filho, Peter que era um atraente oficial. Peter era bonito, sofisticado… e homossexual. Para o espanto de muitas pessoas, um dia ele pediu a Maria Feodorovna a mão da sua filha Olga em casamento. A razão pela qual Maria aceitou é desconhecida. Talvez quisesse manter Olga por perto e era melhor casar com um homossexual do que com um estrangeiro que a levaria para longe. Na carta que escreveu ao filho mais velho, Nicolau, a contar a novidade, Maria escreveu:
“Tenho a certeza que não vais acreditar no que acabou de acontecer. A Olga está noiva do Petya e ambos estão muito felizes. Eu consenti, mas foi tudo feito tão rapidamente e inesperadamente que ainda não consegui acreditar. Mas o Petya é simpático, eu gosto dele e, se Deus quiser, eles serão muito felizes.” Depois assinou a carta com “A tua agitada, Mamã”.
Nicolau respondeu à carta da mãe ainda mais incrédulo:
“Não posso acreditar que a Olga esteja realmente noiva do Petya. Provavelmente estavam os dois bêbados ontem e hoje não se lembram do que disseram um ao outro ontem. O que pensa o Misha disto? E como ficou a governanta? Nós os dois (Nicolau e Alexandra) rimo-nos tanto a ler a tua carta que ainda não conseguimos recuperar. O Petya acabou de entrar de rompante e contou-nos tudo. Agora temos mesmo de acreditar. Mas vamos acreditar que tudo corre bem. Tenho a certeza que vão ser felizes, mas parece-me tudo muito precipitado"
Olga Alexandrovna com o noivo na festa de noivado
Olga era completamente ingénua em relação a assuntos sexuais e provavelmente não fazia ideia do que era um homossexual. Ela não tinha razões para se opor à proposta. Afinal significava que ela finalmente poderia abandonar a casa da mãe e ter a sua própria vida com o marido a seu lado. Então casou-se com o Príncipe Peter Oldenburg numa bonita cerimónia recheada com o brilho Romanov que se realizou no dia 9 de Agosto de 1901, quando Olga tinha 19 anos. As prendas que receberam foram magníficas. O seu novo marido cobriu-a de pedras preciosas e roupas caras e o casal mudou-se para um complexo de palácios em Czarskoe Selo, perto do Palácio de Alexandre onde vivia o irmão mais velho de Olga, Nicolau, com a sua família. Para comemorar o seu casamento, o irmão de Olga deu-lhe o seu próprio regimento de soldados.
Olga (1º fila, 2º dir.) com a mãe, a sobrinha Olga, Alexandra, a irmã Xenia, a sobrinha Irina e o irmão Nicolau
O marido de Olga era submisso e atencioso em público, mas reservado e distante em privado. O casamento nunca foi consumado. Estando perto do palácio do seu irmão e sendo muitas vezes ignorada pelo seu marido que passava a maior parte do tempo com os seus amigos, Olga tornou-se numa visita regular no Palácio de Alexandre e desenvolveu uma ligação com Nicolau muito mais próxima do que quando era uma criança. Também se tornou amiga da sua esposa Alexandra de quem gostava muito e vice-versa.
Olga com o marido em 1901
Em 1903 ela conheceu o Coronel Nikolai Alexandrovich Kulikovsky através do seu adorado irmão Miguel, durante uma inspecção militar em Pavlovsk. Pouco tempo depois começou um romance entre o coronel e a Grã-Duquesa. Nesse mesmo ano, com 22 anos, ela enfrentou o seu marido e pediu-lhe o divórcio imediato. O seu irmão, o Czar Nicolau II, acreditou que a relação de Olga com Kulikovsky não passava de um romance passageiro e aceitou ceder o divórcio no prazo de 7 anos. Contudo, Oldenberg contratou o Coronel como seu ajudante e permitiu-lhe viver na mesma casa da Grã-Duquesa. Para aqueles que sabiam, a relação de Olga com Kulikovsky era mantida em segredo, especialmente para os patriarcas da família Romanov. Contudo, muitos membros influentes da família souberam da relação e não fizeram nada para mostrar a sua desaprovação.
Vivendo em Czarskoe Selo, Olga tornou-se também muito próxima das suas sobrinhas e sobrinho, as filhas e filho do seu irmão Nicolau. Ela criou uma ligação especialmente com a sua sobrinha mais nova, Anastásia, a quem chamava “Shvibzik"
Olga Alexandrovna com a sobrinha Anastásia
Olga viu as suas sobrinhas crescer desde bebés até jovens mulheres e, ao observar as suas vidas e rotinas no Palácio de Alexandre, viu muitas das mesmas tendências que a tinham deixado tão pouco preparada para a vida real. Ela preocupava-se com o futuro das grã-duquesas e do efeito que o clima sufocante da ala das crianças. Elas não tinham ninguém que as preparasse para a sociedade, uma vez que fora a mãe que as criara virtualmente sozinha. Como Alexandra se refugiava da sociedade, repelindo festas e bailas, Olga sentiu que era a única que poderia ter essa função. Com o objectivo de alargar o circulo de amigos das Grã-Duquesas e introduzi-las gradualmente no mundo real, Olga costumava levá-las todos os Sábados de Czarskoe Selo até São Petersburgo de comboio. Aí elas iam até ao palácio da avó onde se organizavam festas especiais para elas, com danças e outras pessoas jovens para elas conhecerem. Olga fazia isto com muito cuidado, sem alarmar os seus pais demasiado protectores. Ela era a única pessoa em quem Nicolau e Alexandra confiavam as suas filhas.
Com o rebentar da Primeira Guerra Mundial as festas acabaram.
Olga Alexandrovna com as sobrinhas Maria, Olga e Anastásia
Durante a Guerra, o amante de Olga, Kulikovsky, foi nomeado para comandar o regimento de Akhtyrsky na linha da frente do Sudoeste da Rússia. Com o conhecimento prévio em medicina aprendido em Olgino, Olga começou a trabalhar como enfermeira no seu próprio regimento em Proskurov. Ao mesmo tempo as tenções internacionais na Rússia começaram a acumular-se à medida que os revolucionários ganhavam força. Durante o primeiro ano da guerra, a Grã-Duquesa esteve num local fortemente bombardeado por austríacos. Era raro as enfermeiras trabalharem tão perto da linha de fogo e, por isso, Olga recebeu a Ordem de São Jorge pelas suas acções heróicas.
Olga durante a Guerra
Em 1916, o Czar Nicolau II anulou oficialmente o casamento entre Olga e Peter Oldenburg, permitindo-lhe casar-se com o Coronel Nikolai Alexandrovich Kulikovsky no dia 14 de Novembro de 1916 na Igreja de São Nicolau em Kiev. Entre os que participaram no casamento estavam a sua mãe Maria Feodorovna, a sua irmã mais velha Xenia, o cunhado Alexandre, alguns oficiais do regimento de Kulikovsky e colegas enfermeiras do hospital de Kiev fundado pela Grã-Duquesa.
Olga com Nikolai Kulikovsky no dia de casamento
Depois da revolução que depôs o seu irmão Nicolau II no inicio de 1917, muitos dos membros da família Romanov foram presos e mantidos nas suas casas. Isto aconteceu com a família do irmão, primeiro no Palácio de Alexandre em Czarskoe Selo. Maria Feodorovna, a Grã-Duquesa Xenia e a Grã-Duquesa Olga conseguiram fugir para a Crimeia onde viveram durante algum tempo antes de também serem presas numa das suas casas.
Olga em Czarskoe Selo com o sobrinho Alexis e as sobrinhas Maria e Anastásia em 1914
No dia 12 de Agosto de 1917, Olga deu à luz o seu primeiro filho, Tikhon Nikolevich Kulkovsky que nasceu em prisão domiciliária durante o domínio do Governo Provisório na Rússia. Olga deu-lhe o nome do santo padroeiro de Oliginio, Tikhon de Zadonsk. Apesar de ser neto de um Imperador e sobrinho de outro, como o seu pai fazia parte do povo, o bebé não recebeu nenhum título e usou o apelido Kulikovsky com orgulho durante toda a sua vida, assim como o seu irmão mais novo Guri. Devido aos problemas de comunicação que a Rússia começou a sofrer e a censura oficial impelida aos Romanov, sabia-se pouco sobre o destino do destino de Nicolau e da sua família.
Olga com o seu filho Tikhon
Enquanto estavam na Crimeia, a família da Grã-Duquesa tinha sido condenada à morte pelos conselhos revolucionários de Sevastopol e Yalta. Durante a confusão política entre as duas fracções, o Poder Central da Alemanha avançou na Crimeia, mas quando chegaram em Novembro de 1918, os soldados souberam da derrota do seu país na guerra. Pouco depois da breve ocupação alemã, o Exército Branco de soldados leais ao czar, restaurou temporariamente a segurança na área, dando tempo à Grã-Duquesa e à família para fugir para o estrangeiro. O rei Jorge V enviou um navio de guerra britânico para retirar a sua tia, Maria Feodorovna, as suas primas e outros membros da família Romanov da instável Crimeia. Foi feito um acordo entre a antiga imperatriz e o rei Jorge V para permitir a evacuação de um grande número de cidadãos russos nesse navio. O bloqueio de comunicações que a família tinha sofrido na Crimeira levantou-se relativamente pelos marinheiros britânicos a bordo. Foi dada a notícia do assassinato confirmado de Nicolau II e das supostas mortes da restante família. O destino do irmão e companheiro de infância de Olga, “Misha”, Grão-Duque Miguel Alexandrovich da Rússia, aquele que quase se tornou Imperador da Rússia, também era incerto. Na altura não se sabia que ele tinha sido assassinado pela Checa em Perm, na Rússia no dia 12 de Junho de 1918 para garantir que não sobravam descendentes Romanov para subir ao trono.
Olga e Miguel
A Grã-Duquesa Olga e o marido recusaram-se a abandonar a Rússia ao mesmo tempo que a restante família. Os dois decidiram ir para a região de Kuban, na altura ainda livre de bolcheviques e viveram na cidade de Novominskaya, a cidade natal do guarda-costas de Maria Feodorovna. Na Primavera de 1919, nasceu o Segundo filho do casal, Guri Nikolaevich, numa quinta alugada. O segundo filho do casal recebeu o nome de um grande amigo de Olga durante a Primeira Guerra Mundial, Gury Panayevich, um grande herói de batalha que tinha morrido em 1914 a defender o seu regimento.Pouco depois do nascimento do Segundo filho, os circulos internos do Exercito Branco abordaram a Grã-Duquesa com propostas para se declarar oficialmente como Imperatriz da Rússia. Olga recusou diplomaticamente a oferta. Sendo a última herdeira legitima ao trono russo, Olga tornou-se num alvo para o Exército Vermelho.
Olga Alexandrovna com o marido e os filhos em 1920
A família começou então aquela que seria a sua última viagem pela Rússia. Fugiram para Rostov-on-Don, refugiamdo-se na residência do Cônsul Dinamarquês, Thomas Nikolaevich Schtte, que os informou sobre a chegada segura deMaria Feodorovna à Dinamarca. Depos de uma breve estadia, a família foi para a ilha de Büyükada no estreito dos Dardanelos perto de Istambul, Turquia. Depois foram para Belgrado onde Olga foi visitada pelo regente Alexandre Karageorgevich que mais tarde seria o Rei Alexandre I da Jugoslávia. O regente recomendou que a Grã-Duquesa e a família vivessem permanentemente num dos estados reais do antigo Império Austro-Húngaro, mas a sua mãe pediu-lhe para se juntar a ela na Dinamarca. A Grã-Duquesa aceitou imediatamente e a família mudou-se novamente para a Dinamarca. A Dagmar Imperatriz Maria Feodorovna morreu no seu país natal no dia 13 de Outubro de 1928, 9 anos depois.
Olga Alexandrovna com os filhos
Com a morte da sua mãe, a casa de Hvidore foi vendida e Olga conseguiu comprara a quinta Knudsminde, a alguns quilómetros de Copenhaga com a sua parte da herança. A sua quinta tornou-se no centro dos monarquistas russos exilados na Dinamarca e um local de passagem de muitos emigrantes russos. Ela manteve sempre o contacto com soldados e oficiais do seu regimento, com a família imperial e com os seus primos da família real dinamarquesa. Ela começou a vender os seus próprios quadros que estiveram em esposição em Copenhaga, Londres, Paris e Berlim. Uma parte do rendimento que a Grã-Duquesa fazia com a pintura ia para varias instituições de caridade russas.
No dia 9 de Abril de 1940, a Dinamarca neutra foi invadida pela Alemanha Nazi e consequentemente tornou-se num país ocupado durante a Segunda Guerra Mundial. Os armazéns de comida, comunicações, censura e fecho de transportes resultaram num grande grupo de dinamarqueses pobres. Os seus filhos, Tikhon e Guri serviram no Exército Dinamarquês antes de a Dinamarca ser invadida e, por serem dois Romanov, foram presos num campo de concentração mais liberal.
Olga com os filhos durante a Segunda Guerra Mundial
A sorte dos Romanov mudou para melhor quando a Alemanha se rendeu aos Estados Unidos, Reino Unido e União Sovietica no dia 5 de Maio de 1945. Quando as condições económicas da Dinamarca se recusaram a melhorar, o General Pyotr Krasnov escreveu à Grã-Duquesa alertando-a para as baixas condições de vida dos cidadãos na Rússia e dos emigrantes russos que viviam na Dinamarca. Olga escreveu imediatamente ao Principe Alex da Dinamarca a falar-lhe da luta económica da Rússia e ele prometeu ajudar os pobres russos, especialmente os Cuzacos.
Estaline controlava rudemente a Rússia. Ele provou ser um vizinho perigosos para a família Romanov quando enviou uma carta ao governo dinamarquês acusando a Grã-Duquesa e um bispo católico dinamarquês de conspiração contra o governo soviético. Quando as tropas soviéticas se aproximaram das fronteiras dinamarquesas após a II Guerra Mundial, o medo de uma tentativa de rapto ou assassinato contra os Romanov cresceu. Então a Grã-Duquesa decidiu mudar novamente a sua família para o outro lado do oceano, na segurança do Canadá rural.
Olga Alexandrovna nos seus últimos anos
Quando a quinta que compraram no Canadá se tornou cada vez mais num fardo, Olga, o marido e os filhos mudaram-se para uma pequena casa em Cooksville, Ontário, um subúrbio de Toronto. Os vizinhos e visitantes da região ganharam um grande interesse nos rumores sobre “a última Romanov” que vivia no Canadá e visitavam-na frequentemente. Dignitários estrangeiros e membros das famílias reais também visitavam a sua confortável casa com um grande jardim. Esses visitantes incluíram a Princesa Marina, Duquesa de Kent, filha da Grã-Duquesa Elena Vladimirovna da Rússia. Outros convidados notáveis incluíram a Princesa Tatiana Constantinovna e o Príncipe Vassily Alexandrovich. Uma das maiores visitas ocorreu quando a Reinha Isabel II, o Principe Filipe e o Príncipe Carlos foram a Toronto e convidaram a Grã-Duquesa para o almoço a bordo do Iate Real, HMY Britannia. Em 1951, antigos soldados do regimento de Olga reuniram-se em sua casa para celebrar o 300º aniversário da criação do mesmo. Pouco depois ela tornou-se presidente da Associação de Cadetes da Rússia Imperial no Canadá.
Depois da morte do marido em 1958, Olga ficou demasiado doente para tomar conta de si e mudou-se para a casa de amigos russos emigrados no Canadá que ficava em cima de um salão de beleza em Toronto. Aí ela podia ouvir a confortável língua da sua infância e cheirar e provar a comida da sua infância. Ela morreu no dia 24 de Novembro de 1960 com 78 anos de idade. Foi enterrada ao pé do marido no Cemitério York em Toronto, Ontário, Canadá. No funeral da última Grã-Duquesa da Rússia participaram muitos emigrantes bem como muitos amigos que ela tinha feito no seu novo país. Os Cadetes Imperiais Russos fizeram uma vigília e uma guarda de honra que durou dois dias. O “New York Times” fez manchete da sua morte nos obituários, mas, em vez de colocarem a sua fotografia, colocaram a da sua sobrinha Olga Nikolaevna. Muitas pessoas foram ao funeral, mas nenhum Romanov.
Olga é lembrada na cidade pelas instituições de caridade que fundou.
campa de Olga Alexandrovna e família em Toronto, Canadá
A Grã-Duquesa Xenia da Rússia nasceu às quatro da manhã do dia 6 de Abril de 1875 no Palácio de Anichkov em São Petersburgo. O seu pai era o Imperiador Alexandre III da Rússia e a sua mãe a Imperatriz Maria Feodorovna da Rússia.
O seu avô paterno, o Imperador Alexandre II da Rússia ficou encantado com o nascimento da sua nova neta, tal como demonstram as palavras do seu manifesto anunciando o seu nascimento. “No 25º dia do presente mês de Março [a Rússia utilizava um calendário diferente] a nossa adorada nora, Sua Alteza Imperial, a Czarena, esposa de Sua Alteza Imperial, o Czarevitch, trouxe a este mundo uma filha que recebeu o nome de Xenia. Recebemos este novo membro da família com uma nova graça de intervenção divina.”
Xenia no colo do pai Alexandre III
A pequena Xenia foi baptizada no dia de aniversário do seu avô a 17 de Abril de 1875 na capela do Palácio de Inverno. A pequena Grã-Duquesa usou um vestido de baptizado feito pela sua mãe de algodão e renda. Tinha um babete removível com o símbolo da família Romanov bordado e uma coroa imperial. Os padrinhos de Xenia foram a sua avó paterna, a Imperatriz Maria Alexandrovna da Rússia, o seu avô materno, o Rei Cristiano IX da Dinamarca, o irmão do pai, Grão-Duque Vladimir Alexandrovich e a irmã mais nova da mãe, a Princesa Thyra da Dinamarca (mais tarde Duquesa de Cumberland).
Xenia em 1876
A tia de Xenia, a Princesa de Gales (mais tarde Rainha Alexandra do Reino Unido) escreveu à mãe da bebé, sua irmã, “Graças a Deus que está tudo acabado e que passaste por tudo bem e que tens uma menina!!! Sofreste muito? Minha pobrezinha Minny – ou tiveste de beber um pouco de Clorofórnio desta vez? Afinal prometeste-me que o farias… Xenia ou lá como se chama a criança, sim é um nome muito bonito, quem se lembrou dele?” A tia de Xenia, Alexandra manteria sempre um grande interesse na sua sobrinha, uma vez que esta nasceu no mesmo dia que o seu filho, o Príncipe John, que morreu 24 horas depois. A prova está na grande quantidade de presentes que lhe enviava de Inglaterra. Alexandra chamava à sua sobrinha Xenie.
Xenia com 2 anos de idade
Xenia tinha dois irmãos mais velhos, o futuro Imperador Nicolau II e o Grão-Duque Jorge Alexandrovich, bem como dois irmãos mais novos, o Grão-Duque Miguel Alexandrovich (que foi durante um breve período de tempo o Imperador Miguel II da Rússia) e a Grã-Duquesa Olga Alexandrovna. Xenia e os irmãos foram criados de forma simples, principalmente no Palácio de Gatchina. Quando era mais nova, Xenia era uma “maria-rapaz” e muito tímida.
Xenia durante a infância
Em Fevereiro de 1880, um grupo de niilistas conseguiu entrar no Palácio de Inverno e colocaram uma bomba na sala de jantar da família. A bomba explodiu e causou grandes danos, mas felizmente a família tinha atrasado o jantar e ninguém ficou ferido. O pai de Xenia enviou-a a ela e aos irmãos imediatamente para o Palácio de Yelagin onde estariam em segurança. A mãe de Xenia escreveu à sua mãe na Dinamarca, “As pobres crianças estão felizes por estar fora da cidade e a aproveitar este lugar.”
Tragicamente, no dia 13 de Março de 1881, quando tinha 6 anos, Xenia testemunhou a morte do seu avô Alexandre II que foi assassinado por um revolucionário numa explosão. O seu pai ascendeu ao trono e tornou-se o Czar Alexandre III. O novo Czar não perdeu tempo e mudou toda a família do perigo de São Petersburgo para a segurança e conforto do Palácio de Gatchina. Gatchina era um vasto palácio com torres, muros altos e alta segurança que ficava a 48 quilómetros de São Petersburgo. Antes de se tornar na casa de Alexandre III e da sua família, pertenceu a Paulo I. Alexandre e a família escolheram viver numa das alas do palácio, no andar mezzanino. Infelizmente os seus quartos foram destruídos durante a invasão Nazi da Rússia, O quarto de Xenia era simples, tal como os dos seus irmãos e também ela dormia numa cama amovível. Mas ela tinha um pouco mais de conforto com um quarto de vestir e cadeiras confortáveis.
Palácio de Gatchina
Xenia, como os seus irmãos, recebeu uma boa educação de tutores privados com especial atenção para a aprendizagem de línguas estrangeiras. Além do Russo nativo, Xenia aprendeu Inglês, Francês e Alemão. Surpreendentemente, Xenia nunca soube falar a língua nativa da mãe, Dinamarquês. Os seus pais eram grandes defensores da utilização construtiva do tempo livre. Xenia divertiu-se enquanto criança aprendendo culinária, trabalhos manuais e como fazer fantoches para os teatros das crianças, incluindo as roupas. Ela também gostava de jogar jogos com os irmãos e também de cavalgar e pescar no lago do palácio. Xenia escreveu, “A mamã e eu fomos ao Admirador [edifício da marinha em São Petersburgo] onde alimentamos patos e depois, levamos um marinheiro e ele pescou connosco. Começamos na Moya e acabamos na ponte grande perto de Menagerie onde fomos para terra e começamos a escolher o ângulo. Foi muito divertido!”
Xenia com a mãe, Maria Feodorovna
Xenia também gostava de desenhar, de ginástica e de tocar piano. A Religião também era muito importante. Xenia realizou a sua Primeira Comunhão em 1883. Sobre a ocasião, a sua mãe escreveu, “Ela esteve muito séria durante toda a sexta-feira e qualquer um percebia que ela estava a pensar muito sobre isso.” Mais tarde, nesse mesmo ano, Xenia esteve presente na coroação dos pais no Kremlin de Moscovo. A sua mãe perguntou às filhas sobre a experiência do seu primeiro evento social, “ela não sabia muito bem – ela não falou e olhou para tudo e curvou-se perante todas as pessoas, como fazia.” Mais tarde nesse ano acompanhou os pais a Copenhaga para a consagração da nova Igreja Ortodoxa em Bredgado.
Olga Alexandrovna, Maria Feodorovna e Xenia Alexandrovna
Xenia, como o resto da família, gostava particularmente das férias de Verão “fora da prisão” na Rússia para o país natal da mãe, a Dinamarca. As reuniões de família em casa dos seus avós maternos (o Palácio de Fredensborg) eram ocasiões divertidas e barulhentas e era frequente ela juntar-se aos seus primos mais novos para andar de patins. Foi em ocasiões deste tipo que ela conheceu a sua amiga de uma vida inteira, a Princesa Maria da Grécia, filha do rei Jorge I da Grécia.
O pai de Xenia gostava tanto de Fredensborg que comprou uma casa modesta mesmo à saída dos portões do palácio em 1885. Quanto a Xenia, era muito conhecida na Dinamarca ao ponto de o compositor Valdemar Vater lhe ter prestado um tributo escrevendo o “Polka Mazuraka de Xenia”. Além das visitas à Dinamarca, a família de Xenia adorava refugiar-se no seu iate para a costa finlandesa. Em 1889, o governo finlandês ofereceu uma casa de Verão ao Czar em Langinkoski. Aí eles costumavam pescar salmão no rio Kymi enquanto a mãe cozinhava sopa de salmão na cozinha.
Xenia (à direita) com a sua prima Maria da Grécia
Em 1884, o Grão-Duque Luís IV de Hesse fez uma visita ao Palácio de Peterhof juntamente com a sua família para o casamento da sua segunda filha, Ella com o tio de Xenia, o Grão-Duque Sergei Alexandrovich da Rússia. Foi a primeira vez que Xenia viu a sua futura cunhada Alexandra Feodorovna que na altura tinha 12 anos e ainda se chamava Alice. As duas deram-se muito bem e brincaram juntas durante muito tempo. A sua nova tia Ella também criou um laço muito especial com Xenia e com o seu irmão Nicolau. Em 1888, Xenia e Alexandra começaram a escrever uma à outra. Xenia era a “galinha” e Alexandra a “velha hen”.
Xenia com 16 anos
Xenia e a sua família viviam em constante medo de morte às mãos dos terroristas. Em 1887, quando a família estava prestes a entrar num comboio para fazer a viagem de regresso a Gatchina de São Petersburgo, o seu pai foi informado de que vários estudantes tinham sido detidos por transportarem livros que continham bombas e que tinham como objectivo ser atiradas à família imperial. Um dos cinco terroristas enforcados em resultado desta tentativa de assassinato foi Alexandre Illyich Ulyanov, irmão mais velho de Vladimir Lenine. Em Outubro de 1888, a família estava a viajar do Cáucaso quando, subitamente, o comboio onde seguiam descarrilou. Xenia foi a primeira a sair dos destroços. O seu pai tinha conseguido manter o tecto da carruagem suficientemente alto para que todos conseguissem rastejar para fora. Apesar de a culpa do acidente se prender com problemas técnicos, nunca foi excluída a hipótese de que uma bomba tinha sido escondida no comboio.
Xenia (ultima da direita) com a família
Xenia e o seu primo, o Grão-Duque Alexandre Mikhailovich, brincavam juntos desde a infância e a sua relação começou como sendo simplesmente amigos. Quando chegou à adolescência, Xenia apaixonou-se pelo seu primo 9 anos mais velho que era um grande amigo do seu irmão Nicolau. Em 1886, quando Alexandre de 20 anos estava a servir na marinha, Xenia de 11 anos enviou-lhe um postal quando o seu navio se encontrava no Brasil, “Felicidades e volta depressa! A tua marinheira, Xenia.” Em 1889, Alexandre escreveu sobre Xenia, “Ela tem 14 anos. Acho que gosta de mim.”
Xenia e Alexandre queriam casar-se desde quando ela tinha 15 anos. Foi uma atracção na qual os seus pais não estavam inclinados para confiar, uma vez que Xenia era muito nova e eles não tinham a certeza sobre a personalidade de Alexandre. Finalmente, em Janeiro de 1894, os pais de Xenia aceitaram o noivado depois do pai dele, o Grão-Duque Miguel Nikolaievich, intervir, apesar da Czarina Maria Feodorovna se queixar da arrogância e falta de educação de Alexandre. O casal casou-se no dia 6 de Agosto de 1894 no Palácio de Peterhof e a sua prima Maude, futura rainha da Noruega, comentou sobre a ocasião: “A pequena Xenia estava muito querida como noiva, foi um dia esgotante para ela. Teve de pôr a coroa e a tiara antes de todas nós (…) O calor na igreja era insuportável uma vez que havia velas e candelabros e demasiada gente para um espaço tão pequeno. Podes imaginar como foi desconfortável – a cerimónia durou quase duas horas.” A irmã mais nova de Xenia, Olga, escreveu sobre a alegria do seu casamento, “O Imperador estava tão feliz. Foi a última vez que o vi assim.”
Eles passaram a noite de núpcias no Palácio de Ropsha e a lua-de-mel em Ai-Todor (a propriedade de Alexandre na Crimeia). Durante a lua-de-mel, o pai de Xenia começou a adoecer e morreu no dia 1 de Novembro de 1894. Xenia escreveu sobre a triste perda do seu pai, “Ainda não acredito. Parece impossível que o nosso adorado anjo tenha partido e deixado a sua pobre e miserável família de coração partido e a chorar por ele. Mas ele está feliz agora. Deus não queria que ele sofresse mais.” Com a morte do seu pai, o seu irmão mais velho, Nicolau, herdou a coroa e tornou-se o Czar Nicolau II.
Xenia com o marido Alexandre em 1894
Xenia e Alexandre tiveram sete filhos juntos:
· Princesa Irina Alexandrovna (1895 – 1970)
· Príncipe Andrei Alexandrovich (1897-1981)
· Príncipe Feodor Alexandrovich (1898-1968)
· Príncipe Nikita Alexandrovich (1900-1974)
· Príncipe Dimitri Alexandovich (1901-1980)
· Príncipe Rostislav Alexandrovich (1902-1978)
· Príncipe Vasil Alexandrovich (1907-1989)
Um dos descendentes de Xenia poderia ser actualmente o líder da Família Romanov, mas todos os seus filhos tiveram casamentos inválidos, por isso, se a monarquia voltasse à Rússia, nenhum deles poderia subir ao trono.
Em 1913, a filha de Xenia, Iria, expressou a sua vontade de se casar com o Príncipe Felix Yussupov, herdeiro da maior fortuna privada da Rússia. Felix tinha decidido que Irina seria uma esposa perfeita, mas Xenia não ficou feliz com a perspectiva de aceitar o casamento da sua única filha com ele devido à sua reputação duvidável. Chegaram a aparecer rumores de que ele teve um caso com o Grão-Duque Dimitri Pavlovich da Rússia. Maria Feodorovna tinha ouvido estes rumores e pediu uma reunião com ele. Ela terá dito, “Não te preocupes, eu farei tudo o que estiver ao meu alcance pela tua felicidade.” A única filha de Xenia casou-se no dia 9 de Fevreiro de 1914 na presença do Czar que a levou até ao altar.
Xenia com o seu marido e filhos
Infelizmente a atracção romântica entre Xenia e o seu marido não durou muito. Durante a última gravidez de Xenia em 1907, Alexandre teve um caso com uma mulher identificada como “Maria Ivanovna” enquanto estava em Biarritz. Um ano depois também Xenia começou um caso com um inglês a quem chamava “Fane” e apenas se referia a ele como “F” nos seus diários. Eles trocaram correspondência até ao inicio da Primeira Guerra Mundial. Depois de Alexandre e Xenia admitirem os casos um ao outro o seu casamento entrou em crise. Apesar de ainda se sentirem apaixonados um pelo outro, começaram a dormir em quartos separados e começaram a levar vidas diferentes. A sua cunhada, a Imperatriz Alexandra Feodorovna comentou sobre o casamento, “Coitada da Xenia, com filhos tão bonitos e a com a filha casada com aquela família imoral – e com um marido tão falso.” Antes da revolução, Alexandre tinha-se desencantado com o rumo da Rússia e com a vida na Corte. Tanto ele como Xenia passavam a maior parte do tempo fora do país, mas ambos regressaram antes do inicio da Primeira Guerra Mundial. Depois da revolução, ambos se separaram e conseguíram escapar da Rússia.
Como se viu anteriormente, Xenia tinha uma relação próxima com o seu irmão e a esposa antes de eles se casarem. Quando Nicolau e Alexandre se mudaram para o Palácio de Inverno depois do casamento, Xenia e Alexandre (conhecido na família como Sandro) passavam longas noites juntos na sala de entretenimento. Alexandra estava isolada do resto da família Romanov e, além das suas duas cunhadas, Xenia e Olga, apenas a Rainha Olga da Grécia a tentava compreender. Eventualmente um grande ressentimento começou a crescer entre Xenia e Alexandra devido ao facto de a primeira, para além da primeira filha, Irina, ter dado à luz apenas rapazes saudáveis. Em contraste, Alexandra tinha quatro filhas seguidas e nenhum herdeiro masculino.
Em 1902, toda a família imperial russa esperava desesperadamente o nascimento de um herdeiro. Xenia escreveu que, nesse ano, Alexandra teve “um pequeno aborto – se lhe podemos chamar um aborto de todo! Apenas saiu um pequeno óvulo!” Alexandra acreditava que estava grávida devido à influência maligna de um charlatão francês chamado Philippe Nizier-Vachot. Vachot tinha convencido a impressionável e desesperada Czarina de que ela estava grávida de um rapaz. Xenia estava preocupada e contou à dama-de-companhia da mãe, “Ainda não consegui chegar perto de encontrar a origem do misterioso, senão falso, Phillipe.”
Finalmente, em Julho de 1904, Alexandra deu à luz um rapaz, Alexis Nikolaievich. A alegria depressa se transformou em desespero quando em Setembro o pequeno Czarevich começou a sangrar do umbigo. Alguns meses mais tarde foi confirmado que o bebé sofria de Hemofilia. O filho doente de Alexandra e os rapazes saudáveis de Xenia eram, na cabeça da Imperatriz, um antagonismo constante. Xenia nunca soubre a verdade sobre os pensamentos de Alexandra durante muitos anos. Infelizmente o nascimento de Alexis resultou no controlo completo da Czarina sobre o seu marido. A chegada de Rasputine também causou tensões. Tal como o resto da família, Xenia era muito céptica em relação aos supostos poderes do “sinistro Gregório”.
Irina (2º da esquerda) com a filha Irina nos braços.
Em 1911, para a desilusão de Xenia, Alexandra estava a pedir a Rasputine para avaliar os potenciais ministros. Num jantar com a sua mãe, o monge siberiano foi o único tema da conversa. Maria Feodorovna foi falar com o seu filho sobre ele e Ella tinha também mostrado preocupação em relação à sua influência com a irmã. Ela escreveu em desespero a Xenia: “Qualquer um sente uma atmosfera demoníaca de má disposição e nojo e intriga como se uma onda negra estivesse a afectar todos que acreditam neste profeta falso. Que Deus nos ajude e ouça as nossas orações. Foi apenas em 1912 que Xenia descobriu através da sua irmã Olga que Alexis tinha Hemofilia. A relação de Xenia e Alexandra sofreu um novo e duro golpe, mas ela continuou muito ligada ao seu irmão. Nicolau visitava-a frequentemente quando estava na Crimeia e ela dava longos passeios com as suas sobrinhas Olga e Tatiana. A sua cunhada raramente a visitava.
Xenia pouco antes da Primeira Guerra Mundial
Além de Nicolau, Xenia era dedicada aos seus outros irmãos, o Grão-Duque Jorge Alexandrovich e o Grão-Duque Miguel Alexandrovich. Ambos estavam destinados a morrer tragicamente antes dela. Jorge morreu de Tuberculose em 1899 e Miguel foi brutalmente assassinado em Perm em 1918. A morte de Jorge, embora esperada, foi traumática, uma vez que agora o seu irmão Miguel estava mais perto do trono. Sem nenhum homem de Nicolau e Alexandra, se ambos os seus irmãos morressem, o trono seria entregue ao Grão-Duque Vladimir Alexandrovich.
Xenia tinha esperança de que Miguel se casasse e partilhasse a sua tristeza quando surgiu a hipótese de uma união entre ele e a Princesa Beatriz de Save-Coburgo e Gotha, mas esta foi negada pela igreja. O nascimento de um rapaz de Nicolau e Alexandra trouxe alivio a ambos os irmãos. Por não poder casar com a Princesa que queria e já não sendo Czarevich, Miguel queria ter uma relação feliz. Isto levou a que se separasse da sua família quando se casou com Natasha Sergeyevna sem a permissão do Czar. O casal foi exilado como castigo. Xenia não descriminou o irmão pela sua escolha, uma vez que ela própria estava a passar por dificuldades no seu casamento e compreendia a sua atitude. Ela recebeu Miguel e a sua esposa em Cannes em 1913 e tentou convencer Nicolau a perdoá-lo. Mais tarde o Czar permitiu a entrada de Miguel na Rússia, mas sem a sua esposa. Xenia também conseguiu acalmar a sua mãe e, finalmente em Julho desse mesmo ano, Maria Feodorovna aceitou encontrar-se com Miguel e até recebeu a sua esposa Natasha.
Como outros membros da família, Xenia estava grata por o seu pai ter mantido a Rússia fora de guerras. No dia 25 de Janeiro de 1904, Xenia escreveu no seu diário, “Foi declarada guerra! Que Deus nos ajude!” A Rússia estava então em guerra com o Japão. No mês anterior, Xenia tinha mencionado ao ministro da guerra que não haveria guerra pois o seu irmão não queria guerra. Ela disse que, “não havia razão para lutar contra o Japão e a Rússia não precisava da Coreia”. O ministro da guerra confessou tristemente que a Rússia não seria capaz de controlar a situação.
Em Fevreiro de 1905, o tio de Xenia, o Grão-Duque Sergei foi morto por uma bomba em Moscovo. Xenia quis ir para o lado de Ella, mas disseram-lhe que a situação era demasiado perigosa. Pouco depois soube-se da derrota da Rússia na Coreia. “Que terrível! Que pesadelo! Porquê, porque estamos a ser castigados por Deus?! Estou a caminhar como se estivesse a sonhar, incapaz de compreender o que se passa”, escreveu ela. Xenia tinha-se mostrado contra a guerra e acrescentou a sua opinião, “Um fim ainda mais estúpido!” Na altura ela encontrava-se na Crimeia com o seu marido e filhos e ficou aterrorizada. Em Outubro, o seu irmão foi obrigado a concordar com a formação de uma Duma. Alguns membros da família viram isto como o fim da autocracia na Rússia. O seu marido demitiu-se da sua posição no Ministério da Marinha Mercante e a família passou o Natal em Ai-Todor na Crimeia por ser perigoso viajar para Norte.
O rebentar da Primeira Guerra Mundial apanhou Xenia e a sua mãe desprevenidas. A primeira estava na França e a segunda em Londres. As duas combinaram encontrar-se em Calais onde o comboio privado de Maria Feodorovna estava à espera para as levar para a Rússia. Elas estavam confiantes de que o Kaiser as deixaria passar, mas quando chegaram a Berlim descobriram que a linha férrea para a Rússia tinha sido fechada. Quando ouviram que o Youssoupovs também estavam em Berlim, Maria Feodorovna pediu-lhes para se juntarem a elas no comboio. Depois de uma situação complicada em Berlim, foi dada finalmente autorização para o comboio seguir para a Dinamarca. Xenia e a mãe chegaram a casa pela Finlândia. Quando chegaram a casa, Xenia, Sandro e Maria Feodorovna viveram juntos no Palácio de Yelagin. Miguel obteve também autorização para regressar e juntou-se à família no dia 11 de Agosto.
Xenia e a mãe sabiam que a Rússia não estava em condições para lutar numa guerra moderna, por isso Xenia lançou-se ao trabalho. Ela providenciou o seu próprio comboio para hospitais e abriu um grande hospital para feridos. Também abriu o Instituto Xenia que oferecia próteses artificiais para os incapacitados pela guerra. Em 1915, Xenia e Maria Feodorovna ficaram horrorizadas ao saber que Nicolau pretendia tomar o comando das forças armadas. Ela acompanhou a sua mãe a Czarskoe Selo para o tentar fazer mudar de ideias. Tal como Maria Feodorovna escreveu no seu diário, “fui tentar a minha sorte.” Para aumentar as suas frustações, a conversa não teve qualquer efeito. Xenia regressou de coração partido para o Palácio de Yelagin. Em Fevereiro de 1916, Xenia viajou para Kiev depois de uma doença para ver a sua mãe e irmã. Olga Alexandrovna tinha finalmente recebido permissão do Czar para dissolver o seu primeiro casamento e casou-se em Novembro de 1916 com Nikolai Kulikovsky na presença da sua mãe. Xenia não esteve presente, mas ouviu tudo sobre o casamento da sua mãe. Em Outubro de 1916, cada vez mais deprimida pelo dilema da Rússia, Xenia escrevey à sua mãe, “O que teria acontecido se o querido Papa ainda estivesse vivo? Será que haveria guerra – desordem, fermento intelectual, desacordos – numa palavra, tudo o que está a acontecer ou não – acho que não – pelo menos grande parte do que está acontecer, não aconteceria e podemos dizê-lo com certeza.” Xenia, a sua mãe e a sua irmã Olga pediram ao Grão-Duque Nicolau Mikhailovich da Rússia para escrever ao Czar para o avisar sobre a influência de Alexandra nos assuntos do governo.
Nicolau nem sequer abriu o envelope, mas Alexandra leu a carta e acusou o Grão-Duque de “rastejar atrás da tua mãe e irmãs”.
Xenia com Alexandra
Compreendendo o perigo que corria, Xenia e a sua família mudaram-se para Ai-Tudor na Crimeia. Aí recebiam poucas notícias. Xenia ouviu falar do assassinato de Rasputine e ficou inconfortável com o episódio. Ela escreveu à sua mãe que estava em Kiev, “Dormi pouco. Há um rumor sobre o assassinato de Rasputine!” O cunhado de Xenia tinha sido um dos assassinos. Nos inícios de 1917, Xenia esperava que a sua mãe conseguisse fazer com que o seu irmão se consciencializasse sobre o colapso cada vez mais próximo da Rússia. Ela escreveu em desespero, “Se pudesses falar serias ouvida. Se as coisas não mudarem, será o fim de tudo. As pessoas parecem pôr as suas últimas esperanças em ti e se isso falhar, só pode acabar mal.”
A sua mãe achava que não podia fazer nada e não tinha intenções de regressar a São Petersburgo de Kiev. No dia 19 de Fevereiro de 1917, Xenia regressou a São Petersburgo e ao seu palácio. No dia 25 de Fevereiro, escreveu no seu diário, “Há distúrbios na cidade, até dispararam contra a multidão, dizem eles, mas tudo está calmo em Nevsky. Eles estão a pedir pão e as fábricas estão de greve.” No dia 1 de Março de 1917 ela escreveu, “Não há fim para o pesadelo e há tantos rumores por aí. Diz-se que o comboio do Nicky foi parado e que ele foi forçado a abdicar!” Mais tarde ela escreveu, “Infelizmente o Nicky não compreendeu o perigo. Se o Nicolau tivesse reagido mais cedo e garantido as condições impostas pela Duma podia ter salvado o trono. Estas horas fizeram toda a diferença!” Maria Feodorovna escreveu-lhe sobre a reunião com Nicolau em Mogiliev, “Ainda não consigo acreditar que este horrível pesadelo é real!” Mais tarde ela também escreveu, “Não sei nada do pobre Nicky, por isso estou a sofrer horrivelmente.” Xenia tentou ver o seu irmão, mas o Governo Provisório não lhe deu permissão. Não vendo futuro onde estava, Xenia voltou para Ali-Todor no dia 25 de Março, dia do seu 42º aniversário.
Xenia chegou a Ai-Todor onde se juntou com a sua mãe, irmã e marido no dia 28 de Março de 1917. No final de Novembro, Xenia escreveu ao seu irmão Nicolau que estava em exílio em Tobolsk, “O meu coração sangra sempre que penso no que passaste, no que viveste e no que ainda estás a viver! A cada passo houve horrores e humilhações injustas. Mas não temas, o Senhor vê tudo. Desde que estejas saudável e bem. Às vezes parece tudo um pesadelo terrível e que vou acordar e tudo vai estar bem! Pobre Rússia! O que lhe vai acontecer?” Em 1918, enquanto estava na Crimeia, Xenia recebeu a notícia de que o seu irmão Nicolau II, esposa e filhos tinham sido mortos pelos bolcheviques. Quando o exercito vermelho se estava a aproximar cada vez mais da Crimeia, Xenia e a sua mãe conseguiram escapar da Rússia no dia 11 de Abril de 1919 com a ajuda da Rainha Alexandra do Reino Unido, irmã de Maria Feodorovna. O rei Jorge V enviou um navio de guerra britânico que as levou a elas e a outros Romanov da Crimeia pelo Mar Negro para Malta e depois para a Inglaterra. Mais tarde a sua irmã Olga juntou-se à família. Xenia permaneceu no Reino Unido, enquanto que a sua mãe e irmã preferiram partir para a Dinamarca.
Xenia visitava a sua mãe na Dinamarca sempre que podia. Ela estava a viver na Villa Hvidore que ela e a irmã Alexandra tinham construído na costa norte de Copenhaga. Em Outubro de 1928, Maria Feodorovna ficou gravemente doente. Durante esta altura ambas as suas filhas estavam sempre ao seu lado, junto à cama. No dia 13 de Outubro a antiga Imperatriz acabou por morrer. Um jornal dinamarquês escreveu que, “a Dinamarca está de luto pela sua sábia e corajosa filha”.
Xenia nos seus últimos anos
No dia 17 de Maio de 1920, Xenia recebeu os direitos para as propriedades de Nicolau na Inglaterra por ser a irmã mais velha do falecido Czar. O seu valor é de 500 libras. O seu marido Sandro estava a viver em Paris. Em 1925, a situação financeira de Xenia tinha-se tornado desesperante. O seu primo directo, o Rei Jorge V, permitiu que ela vivesse em Frogmore Cottage, uma boa casa no Windsor Great Park. Ela escreveu ao primo em agradecimento, “A sério Georgie, é muito bom e gentil da tua parte. Eu aceitaria tudo excepto ser mantida por outros. Não tenho palavras para te dizer como me sinto.”
Xenia à porta de casa
Mais tarde ela teve de lidar com as afirmações fraudulentas de Anna Anderson que dizia ser a sua sobrinha Anastasia. A sua irmã Olga tinha realçado que se aparecessem mais gastos excessivos por parte da família, a sua mãe deixaria de receber a sua pensão do Rei Britânico. Em Julho de 1928, dez anos depois do suposto assassinato de Nicolau, Alexandra e filhos, todos assumiam que eles estavam mortos e, por isso a família lutava pelas suas possessões, principalmente pela propriedade finlandesa, mas acabaram por perder.
Depois da morte da sua mãe, a venda de Hvidore e das jóias de Maria Feodorovna trouxe algum dinheiro. Pouco depois, Xenia recebeu uma carta de Gleb Botkin, filho do médico da família do seu irmão, acusando-a de estar a tentar roubar aquilo que pertencia à sua sobrinha Anastasia. O seu marido não escondeu os sentimentos que tinha em relação à Botkin numa carta a Xenia, “Obrigado pela tua carta (…) Também pela malvadez do Botkin, que feitio! Estou envergonhado pelo povo russo, Vou procurar conselhos junto de um advogado americano, mas na minha opinião é melhor não fazer nada e esperar pelo ataque deles.” No dia 26 de Fevereiro de 1933, o seu marido Sandro morreu. No dia 1 de Março ele foi enterrado em Roquebrune-Cap-Martin no sul de França e tanto ela como os seus filhos estiveram presentes na cerimónia.
Xenia com os filhos
Em 1934, a Frogmore Cottage tornara-se demasiado pequena para Xenia e a família. O rei mandou adicionar uma nova ala à casa. Em Março de 1937, Cenia mudou-se da Frogmore House para a Wilderness House nos jardins do Palácio de Hampton Court. Xenia continuou a viver lá até à sua morte no dia 20 de Abril de 1960. Mesmo apesar das dificuldades por que passava na altura, Xenia deixou uma pequena quantia para cada um dos seus filhos.
Xenia com o vestido da corte em 1893
O Grão-Duque Jorge Alexandrovich nasceu no dia 9 de Maio de 1871 em Czarskoe Selo e era o terceiro filho de Alexandre III e da sua esposa, a Imperatriz Maria da Rússia. Foi chamado de Jorge em honra do seu tio e irmão mais novo da sua mãe, o rei Jorge I da Grécia. Quando nasceu o seu pai, como filho mais velho de Alexandre II, era o Czarevich da Rússia. A seguir ao seu irmão mais velho, o Grão-Duque Nicolau, o recém-nascido Jorge era o terceiro em linha de sucessão ao trono, uma vez que um outro irmão chamado Alexandre tinha morrido antes do seu nascimento com poucos meses de idade. Entre as sua família tinha a alcunha de “salgueiro”.
Jorge com poucos meses de idade entre a sua mãe e o irmão mais velho
Quando era uma criança, Jorge era mais forte e saudável do que o seu irmão Nicolau e podia ser descrito como o típico Romanov. Jorge era alto, ao contrário do seu irmão, bonito e muito divertido. Tinha tendência para se meter em problemas e ser malcomportado, mas como a sua mãe gostava demasiado dele, livrava-se dos castigos facilmente. Tal como os seus irmãos, ele foi criado à maneira inglesa. Dormiam em camas amovíveis e levantavam-se às 6 da manhã para tomar banhos de água fria, sendo que apenas em raras ocasiões tinham autorização para tomar banhos com água quente na casa de banho da mãe. O pequeno-almoço consistia normalmente de papas de aveia e pão preto. Ao almoço eram servidos bolos de carne ou bife grelhado com ervilhas e batatas assadas r ao lanche tinham pão com manteiga ou geleia. Bolos só se serviam em ocasiões muito especiais.
Jorge (à esquerda) com o irmão Nicolau
Nicolau e Jorge partilhavam uma sala de estar, uma sala de jantar, um quarto de brincar e um quarto de dormir, todos mobilados de forma muito simples. A mãe de Jorge ensinou-lhe que a vida familiar era muito importante. Devido ao casamento feliz dos seus pais, ele foi criado numa atmosfera de amor e segurança que faltava em muitas casas reais. No dia 27 de Maio de 1883, os pais de Jorge foram coroados numa cerimónia magnífica na Catedral Uspensky no Kremlin de Moscovo. Os novos imperadores receberam uma homenagem por parte da família imperial incluindo dos seus filhos Nicolau e Jorge, ambos de uniforme. Foi uma grande ocasião na vida do jovem Grão-Duque. A maior parte do tempo a família vivia na segurança e conforto do Palácio de Gatchina.
Nicolau e Jorge (à direita)
Jorge era considerado o mais inteligente de todas as crianças imperiais. Também era muito social, ao contrário do seu irmão. Jorge e Nicolau partilhavam os mesmos tutores, mas estudavam em salas diferentes. Mais tarde frequentaram o curso na Academia Naval Russa. Ambos os irmãos falavam e escreviam Inglês na perfeição e gostavam bastante de desporto, particularmente de caça e pesca. Também falavam fluentemente Francês e um pouco de Alemão e Dinamarquês. Jorge dava sinais de uma grande carreira na Marinha antes de adoecer com tuberculose em 1890.
Jorge (em cima) com os irmãos Miguel, Xenia e Nicolau
O Imperador e a Imperatriz decidiram enviar Nicolau e Jorge numa viagem de 9 meses pelo mundo em 1890. Jorge iria como cadete naval e Nicolau para completar a sua educação vendo algo diferente por todo o mundo. Maria Feodorovna esperava que o sol quente e os ares marítimos fizessem bem à saúde do seu filho. Eles deixaram Gatchina no dia 4 de Novembro de 1890. A Imperatriz nunca se tinha separado dos filhos por tanto tempo dos seus filhos e sentiu imensas saudades deles. “Não podes imaginar como é triste e difícil estar aqui sem ti, meu anjo, e como dói pensar nesta longa separação”, escreveu ela numa carta a Jorge.
Jorge com os pais
Os seus dois irmãos foram até à Grécia num navio de Guerra para se juntarem aos seus primos que incluíam o Príncipe Jorge da Grécia, conhecido como o “Jorge Grego”.A partir daí eles viajaram até ao Egipto. Quando chegaram a Bombaim na Índia, Nicolau enviou um telegrama à sua mãe onde dizia que Jorge não tinha saído do navio porque tinha problemas na perna. Apesar de garantir aos pais que estava perfeitamente bem, eles foram subitamente informados de que ele tinha febre alta e ia regressar a casa. A Imperatriz ficou alarmada. “Não consegues imaginar a angústia que tenho passado nestes últimos dias”, escreveu ela. “Apesar de todas as análises… tenho de levar as coisas com calma, e convencer-me a mim própria que é apenas uma simples e horrível malária e que vai passar com uma mudança de ares.” Jorge, na verdade, sofria de bronquite aguda e foi enviado para Atenas onde foi examinado por médios reais. A Imperatriz ficou nervosa por ambos os filhos: Jorge porque sentiu bem o seu desapontamento e Nicolau que estava agora sem a companhia do irmão.
Em Novembro de 1894, Alexandre III morreu subitamente e Nicolau subiu ao trono. Na altura, Nicolau não tinha filhos, por isso, de acordo com as leis de sucessão russas, Jorge tornou-se Czarevitch e estava em primeiro lugar para a sucessão ao trono.
A fraca saúde de Jorge forçou-o a mudar-se para Borjomi, na Geórgia. Foi-lhe impossível regressar a São Petersburgo para o funeral do pai, Alexandre III, uma vez que os médicos o proibiram. Nicolau escreveu ao seu irmão, “Rezo constantemente a Deus para que te envie uma recuperação rápida e completa, bem como conforto para ti, porque é muito mais difícil estar sozinho depois de tão grande desgosto do que estar, como nós, juntos!” Jorge também faltou aos baptizados das suas sobrinhas Olga e Tatiana. Pouco depois do nascimento da terceira filha de Nicolau, Maria, em Junho de 1899, Jorge escreveu ao seu irmão mais velho, “Estou terrivelmente triste por não ter conseguido ainda ver e conhecer as tuas filhas, mas o que posso fazer? Significa que não é destino, mas sim a vontade de Deus.”
Jorge nos seus últimos anos em Borjomi, na Geórgia
As visitas da sua mãe à Geórgia eram muito agradáveis. Em 1895, Jorge e Maria Feodorovna visitaram a Dinamarca, uma vez que já não viam os seus parentes dinamarqueses há mais de 4 anos. Foi uma visita triste, uma vez que foi a primeira sem o antigo Czar. Depois, subitamente, a sua saúde piorou. “Ontem, no jardim, ele expectorou com algum sangue… isso assustou-me mais do que consigo dizer – a surpresa de o ver foi um verdadeiro choque, porque ele tinha estado tão bem ultimamente. Estou bastante desesperada por isto ter acontecido aqui.”
Como resultado, Jorge foi proibido de fumar e obrigado a ficar na cama até estar em condições para o seu regresso à Geórgia. Quando escreveu novamente a Nicolau, Jorge contou-lhe sobre a sua viagem à Dinamarca, “Claro que foi bom ver a família ao fim de 4 anos, mas não me fez nada bem, uma vez que perdi 2 quilos e meio que tinha conseguido ganhar com muita dificuldade em Maio e Junho. Também já não consigo respirar muito bem. Por isso são estes os resultados da minha viagem. Muito irritante.”
Jorge morreu subitamente no dia 9 de Agosto de 1899, aos 28 anos. Ele tinha saído na sua mota e, algumas horas depois, quando não regressou, os seus empregados preocupados foram à sua procura. Quando o encontraram era tarde demais. Uma camponesa tinha-o encontrado desmaiado numa vala na estrada com sangue a sair-lhe da boca enquanto lutava por respirar. Ela segurou-o nos seus braços até que ele morreu. A notícia chegou a Nicolau por telegrama e foi ele que teve a difícil tarefa de contar à sua mãe. Ela entrou num estado de verdadeira histeria. Durante muito tempo ela acreditou que o seu estado de saúde estava a melhorar a morte do filho foi um choque terrível.
A sua família ficou completamente devastada. Nicolau ficou particularmente afectado, uma fez que se tratava do seu irmão mais novo e companheiro de juventude. O Grão-Duque Constantino Constantinovich escreveu, “Todos estavam afectados por esta notícia triste e repentina”. A Rainha Vitória escreveu a Nicolau II, “Aceita a expressão dos meus mais sinceros pêsames no meu deste tempo de tristeza, pois eu sei bem a ligação que tinhas com o pequeno Jorge, cuja vida foi tão triste e só.” Em resposta, Maria Feodorovna disse, “Muito obrigada pela vossa sincera simpatia neste momento terrível. O meu pobre e querido filho morreu bastante só. Estou de coração partido.
Jorge (em pé à direita) com os irmãos
No dia 14 de Agosto de 1899, o corpo de Jorge foi enterrado na Catedral da Fortaleza Pedro e Paulo em São Petersburgo, perto do local onde se encontrava o seu pai Alexandre III. Durante o funeral, a sua mãe não verteu uma única lágrima, mas manteve uma expressão de sofrimento profundo. Quando o caixão estava a ser baixado para o seu tumulo, Maria Feodorovna ficou ao lado da sua filha Xenia, agarrando-lhe o braço e, subitamente, olhando para ela com os olhos muito abertos, disse alto o suficiente para que todos a pudessem ouvir: “Vamos para casa. Já não aguento mais!” e saiu rapidamente. Ninguém chegou a ter tempo para deitar flores para o túmulo. Na carruagem ela chorou bastante, apertando o chapéu de Jorge que tinha tirado do caixão contra o peito.
Jorge (primeiro da direita) com o irmão Nicolau e a irmã Xenia
Nicolau II sempre recordou Jorge e o seu sentido de humor. Quando Jorge contava uma anedota, Nicolau escrevia as melhores em pedaços de papel e guardava-os numa caixa. Anos após a morte do seu irmão mais novo, não era raro ouvir o Czar a rir-se sozinho no seu escritório, ao rever a caixa de anedotas. Quando o irmão mais novo de Jorge, Miguel, teve o seu primeiro filho em 1910 deu-lhe o seu nome. No entanto este Jorge também morreria novo em 1931 depois de um acidente de carro quando tinha 20 anos.
Jorge (em baixo) com Nicolau
Décadas mais tarde, o seu corpo foi exumado para que se pudesse extrair uma amostra de AND que seria comparada com os restos mortais encontrados em Ekaterinburgo em 1991 para comprovar se estes pertenciam ao seu irmão Nicolau e restante família. O resultado mostrou uma compatibilidade exacta. Mesmo depois da morte, Jorge provou ser uma grande ajuda para o seu irmão.
Anastasia Romanov era a filha mais nova e de Nicolau II e Alexandra da Rússia, nascida a 18 de Junho de 1901 no Palácio de Peterhof.
Anastasia tornou-se famosa após a sua morte devido às inúmeras mulheres que se fizeram passar por ela ao longo do século XX e também à atenção da qual foi alvo por parte da Cultura Popular de todo o mundo.
Anastasia nos braços da mãe em 1901
A esperança no nascimento de um herdeiro para a dinastia Romanov foi novamente adiada com o nascimento de Anastasia Nikolaevna em 1901. Quando recebeu a notícia de que tinha sido pai da quarta filha consecutiva, o czar Nicolau II foi dar um longo passeio sozinho para se acalmar antes de visitar Alexandra e a nova bebé.
Um significado para o nome Anastasia é "aquela que se liberta das correntes". A quarta Grã-Duquesa recebeu o nome devido ao facto de, em honra do seu nascimento, o seu pai ter perdoado e colocado em liberdade estudantes que tinham sido presos por participarem em motins em São Petersburgo e Moscovo no Inverno anterior. Outro significado para o seu nome é "ela irá erguer-se", ligado à ressurreição , facto que foi muitas vezes repetido quando as histórias sobre a sua sobrevivência começaram a aparecer.
Anastasia em 1902
Anastasia tinha um aspecto e personalidade diferentes das suas femininas e bem-comportadas irmãs. Era descrita como uma “maria-rapaz” que gostava de subir às árvores e brincar com os rapazes. A dama-de-companhia da sua mãe, Shopie Buxhoeveden, escreveu o seguinte sobre Anastasia e a sua irmã Maria:
“A Maria Nikolaevna era igual à Olga em cores e feições, mas com tudo mais acentuado e vivo. Ela tinha o mesmo sorriso encantador, a mesma forma da cara, mas os olhos dela, “as safiras da Maria”, como eram conhecidos entre os seus primos, eram magníficos, de um azul profundo. O cabelo dela tinha madeixas douradas e, quando foi cortado depois da doença dela em 1917, encaracolou-se naturalmente em volta da cabeça. A Maria era comandada inteiramente pela sua irmã mais nova, Anastasia Nikolaevna, chamada de “criança mal-comportada” pela sua mãe.
Talvez a Anastasia se tivesse tornado na mais bonita das irmãs se tivesse vivido mais tempo. As suas feições eram regulares e bem delineadas. Ela tinha um cabelo bonito, olhos bonitos e vivos com se tivessem sempre um sorriso brincalhão escondido nas suas profundidades, e sobrancelhas negras que quase se juntavam. Tudo isto combinado, tornava a Grã-Duquesa mais nova diferente de todas as irmãs. Ela tinha um aspecto próprio e parecia-se mais com a família da mãe do que com a do pai. Ela era muito baixa, mesmo aos 17 anos e era, na altura, bastante gorda, mas era gordura da juventude. Ela teria-a ultrapassado como a sua irmã Maria.”
No iate do pai
Anastasia era a origem de todo o mau-comportamento e era tão esperta e divertida quanto era preguiçosa nas suas lições. Ela era astuta e observadora, com um apurado sentido de humor, e era a única das irmãs que nunca soube o significado da palavra timidez. Mesmo muito nova, ela entretinha velhos severos que se sentavam ao pé de si na mesa.
Alexis e Anastasia
Anastasia cresceu espevitada e energética, descrita como sendo baixa e com tendência a engordar, com olhos azuis e cabelo loiro quase ruivo. Margaretta Eagar , a ama das 4 irmãs, comentou que alguém lhe tinha dito que Anastasia tinha a melhor personalidade que ele alguma visto numa criança.
Enquanto era frequentemente descrita como dotada e brilhante, nunca se interessou pelas restrições da sala de aula, de acordo com os seus tutores Pierre Gilliard e Sydney Gibbes que, juntamente com o resto dos empregados da família, descreveram Anastasia como sendo energética, travessa, e uma dotada actriz. Contudo a sua inteligência nem sempre era utilizada na melhor maneira.
Anastasia em 1905
A ousadia de Anastasia, excedia, por vezes, os limites do comportamento aceitável. "Sem dúvida nenhuma que ela mantinha o recorde de castigos atribuídos na sua casa, uma vez que, ao pregar partidas, era um verdadeiro génio," disse Gleb Botkin, filho do médico da corte, Yevgeny Botkin que viria a morrer com o resto da família em Etkaterinburgo .
Anastasia com as irmãs em 1904
Às vezes, Anastasia fazia rasteiras aos empregados e pregava partidas aos seus tutores. Quando era criança, subia às árvores e recusava-se a descer, sendo que o único que a conseguia convencer a fazê-lo era o seu pai, Nicolau II. Uma vez, durante uma luta de bolas de neve na propriedade polaca da família, Anastasia escondeu uma pedra com neve e atirou-a à sua irmã Tatiana, fazendo-a cair ao chão. Uma prima distante, a Princesa Nina Georgievna recordou que "a Anastasia era uma má perdedora ao ponto de ser verdadeiramente maldosa," e fazia batota, pontapeava e arranhava os seus adversários durante os jogos. Também se preocupava menos com a sua aparência do que as suas irmãs. Hallie Erminie Rives, uma escritora americana e esposa de um diplomata descreveu como Anastasia de 10 anos comia chocolates sem se preocupar em tirar as suas luvas brancas enquanto assistia a um espectáculo na casa da ópera de São Petersburgo.
Anastasia e a irmã mais velha Maria eram conhecidas como "o Par Pequeno" e partilhavam o mesmo quarto. Juntamente com as irmãs mais velhas, Olga e Tatiana, costumavam assinar as cartas com a alcunha OTMA que vem da primeira letra de cada um dos seus nomes. Para além de Maria e das irmãs, Anastasia era também muito próxima do seu irmão mais novo, Alexis e era ela que o costumava divertir quando ele sofria de ataques de hemofilia.
Anastasia e Alexis
Apesar da sua energia, a saúde física de Anastasia era pobre. A Grã-Duquesa sofria de joanetes que lhe afectavam os pés. Além disso tinha um musculo fraco nas costas que tinha de ser massajado duas vezes por semana. Normalmente escondia-se debaixo da cama ou no armário para evitar estas massagens.
A sua mãe, Alexandra, confiava nos conselhos de Gregório Rasputine, um camponês russo que se considerava um "homem santo" e usou as suas rezas para salvar Alexis em numerosas situações. Anastasia, as irmãs e o irmão foram ensinadas a tratar Rasputine por "O Nosso Amigo" e a trocar confidências com ele. No Outono de 1907, a sua tia Olga Alexandrovna foi levada aos quartos das crianças pelo czar para conhecer Rasputine e deparou-se com as suas sobrinhas e sobrinho a usar as suas camisas de dormir.
Anastasia e a sua tia Olga Alexandrovna
Segundo relatos da época as crianças pareciam gostar dele e costumavam escrever-lhe frequentemente. Mais tarde seriam essas cartas que iriam incentivar os rumores de que o maléfico monge mantinha um romance tanto com Alexandra como com as suas filhas, particularmente devido a uma carta inocente, mas sugestiva que Anastasia lhe escreveu: "Meu querido, precioso e único amigo, quanto gostaria de te poder ver outra vez. Voltaste a aparecer-me num sonho. Estou sempre a perguntar à mamã quando vais voltar. Penso sempre em ti, meu querido, porque és tão bom para mim." Para além das cartas, circulavam também caricaturas pornográficas que mostravam a czarina e as filhas a terem relações com Rasputine .
Sem saber da doença de Alexis , tanto o povo russo como membros da família questionavam a presença do monge siberiano na corte. Mais tarde, Nicolau pediu-lhe que se ausentasse de São Petersburgo e ele foi para a Palestina, mas acabou por regressar e serviu sempre a família até ao seu assassinato em 1916.
Anastasia com a mãe
Durante a Primeira Guerra Mundial, Anastasia , juntamente com a irmã Maria, visitava soldados feridos num hospital privado em Tsarskoye Selo onde também trabalhavam a mãe e as irmãs mais velhas Olga e Tatiana. As duas adolescentes jogavam xadrex e bilhar com os soldados e tentavam animá-los. Felix Dassel , que foi tratado nesse hospital e conheceu Anastasia , contou que a Grã-Duquesa "ria como um esquilo e andava muito depressa, tropeçando várias vezes durante o caminho."
Anastasia durante a I Guerra Mundial
Após a abdicação do pai a Março de 1917, Anastasia foi presa com o resto da família, primeiro em Czarskoe Selo, depois em Tobolsk e, finalmente, em Etkaterinburgo. O stress e a incerteza sobre o seu destino, afectaram tanto Anastasia como o resto da família.
1913
"Adeus," escreveu ela a um amigo no Inverno de 1917. "Não te esqueças de nós." Em Tobolsk , ela escreveu uma canção para o seu tutor de Inglês, cheia de erros ortográficos sobre Evelyn Hope ", um poema de Robert Browning , que falava sobre uma jovem da idade de Anastasia : "Quando ela morreu tinha apenas 16 anos. Havia um homem que a amava, sem alguma vez a ter visto, mas conhecia-a muito bem. E ela também tinha ouvido falar dele. Ele nunca lhe conseguiu dizer que a amava, e agora ela estava morta. Mas mesmo assim ele pensou que quando ele e ela vivessem [a sua] próxima vida, quando isso acontecesse (...)"
Mesmo nos seus últimos meses de vida, ela encontrava sempre maneiras de se divertir. Ela e outros membros do grupo de empregados que a família levou, frequentemente organizavam peças de teatro para entreter os pais e os outros habitantes da casa de Tobolsk , durante a Primavera de 1918. As representações de Anastasia faziam todos caírem ao chão de tanto rir, segundo o seu tutor Sydney Gibbes . No dia 7 de Maio de 1918, uma carta enviada para a sua irmã Maria que já se encontrava em Ekaterinburgo , descrevia um momento de alegria, apesar da tristeza, solidão e preocupação que Anastasia sentia pelo seu irmão Alexis : "Estivemos a brincar nos baloiços, e foi aí que eu me perdi de riso, a queda foi tão maravilhosa! Mesmo! Eu já a contei às nossas irmãs tantas vezes ontem que elas já estão fartas de me ouvir, mas eu podia continuar a contar a história muitas vezes... Que clima fantástico temos tido! Qualquer um podia gritar de alegria.
Anastasia começou a fumar no Verão de 1916
Nas suas memórias, um dos guardas da "Casa Para Fins Especiais", Alexandre Strekotin , recordou Anastasia como sendo "muito amigável e divertida," enquanto que outro disse que ela era "um diabo muito charmoso! Ela era traquinas e, pelo que vi, raramente se cansava. Era muito viva, e gostava muito de pôr os cães a representar em comédias mímicas , como se fossem cães de circo." No entanto um outro guarda apelidou-a de ofensiva e terrorista" e queixou-se de que, ocasionalmente, ela provocava tensões dentro da casa.
As 4 grã-duquesas no quarto que partilhavam em Tobolsk
A lenda de Anastasia começou na noite de 17 de Julho de 1918. A Grã-Duquesa seguiu o resto da sua família, levando o seu cão Jimmy nos braços para a cave da Casa Ipatiev onde todos terão sido executados.
De acordo com o Relatório de Yurovsky , o homem que comandou o fuzilamento, após a primeira vaga de disparos, as balas fizeram ricochete nas jóias que as Grã-Duquesas tinham cosido nos seus corpetes. Pouco depois Olga e Tatiana terão sido esfaqueadas com as baionetas dos soldados, enquanto que as outras duas estavam encostadas à parede, aterrorizadas a tapar a cara até serem executadas com balas dos soldados.
última fotografia conhecida de Anastasia
No entanto há também relatos que contradizem o que foi escrito por parte dos próprios soldados que mataram a família. Um deles, Peter Ermakov , contou à mulher que Anastasia tinha sido esfaqueada e não morta por tiros. Outros dizem que já quando os corpos estavam a ser transportados para o camião, a filha do czar começou a chorar e foi morta com um golpe na cabeça.
Nos anos que se seguiram ao massacre da Casa Ipatiev pelo menos 10 mulheres garantiram ser a Grã-Duquesa , sendo a mais famosa Anna Anderson . Com cada nova mulher que aparecia, chegava também uma nova história sobre como Anastasia e até os seus irmãos teriam sobrevivido.
Havia rumores de que Anastasia tinha sido salva por um dos guardas quando este reparou que ela estava viva, de que tanto ela como a irmã Maria tinham sido salvas por um padre em 1919 e que viveram como freiras num convento nos Montes Urais até à morte de ambas em 1964, os rumores chegaram também à Bulgaria onde um homem chamado Peter Zamiatkin que se dizia ser um guarda da família imperial, contou a um paciente de 16 anos de um hospital que tinha levado Anastasia e Alexis para Odessa e, mais tarde conseguiu escapar para Alexandria de navio. Os supostos filhos do czar teriam vivido com nomes búlgaros e morreram em 1954.
Anastasia durante uma actuação com a irmã Maria em 1912
Os rumores da possível sobrevivência de Anastasia foram também alimentados pelos relatos de que comboios e casas estariam a ser revistados pela polícia secreta dos bolcheviques que procurava Anastasia Romanov. “No curto espaço de tempo em que esteve presa em Perm durante 1918, a Princesa Helena Petrovna , esposa do primo distante da Grã-Duquesa , Principe Ioann Konstantinovich , contou que uma vez um guarda lhe trouxe uma rapariga que se apelidava de Anastasia Romanova à sua cela e lhe perguntou se aquela era a filha do czar. Helena Petrovna disse que não a reconhecia e então a rapariga foi levada novamente. Na mesma cidade corriam rumores de que algumas pessoas tinham visto Alexandra e as filhas depois do assassinato, mas nunca se deu grande importância à história
Uma outra história de que 8 testemunhas tinham assistido à captura de uma jovem que, aparentemente, tentava fugir do país em Setembro de 1918. Algumas dessas testemunhas identificaram a jovem como sendo Anastasia quando lhes foram mostradas fotografias da Grã-Duquesa por soldados do Exercito Branco que ainda tinham esperança de encontrar a família real com vida. Uma das testemunhas (um médico) disse aos membros do Exercito Branco que tinha tratado daquela jovem e que ela lhe tinha dito que era a filha do czar, Anastasia e que lhe tinha passado uma receita com esse nome. Mais tarde o Exercito Branco encontrou registos dessa receita. Durante o mesmo período em meados de 1918 várias pessoas usaram a identidade da família para obter ajuda para abandonar o país ou obter dinheiro.
Embora a hipótese de que alguém tivesse conseguido escapar na noite de 17 de Julho nunca tivesse sido levada a sério, existem alguns relatos de que seria possível um ou mais membros da família fugir com vida. Yakov Yurovsky exigiu que os guardas fossem ao seu escritório e entregassem os objectos pessoais que tivessem roubado dos corpos da família depois do homicídio . Segundo alguns guardas houveram espaços de tempo em que os corpos foram deixados sozinhos, na cave, no corredor e, mais tarde, no camião que faria o seu transporte, o que daria espaço de manobra a guardas que não tivessem participado no assassínio e tivessem feito amizade com a família teriam a oportunidade de salvar alguém que não tivesse morrido durante o massacre.
Para além disso, falou-se também na hipótese de que houve bastante nervosismo na altura de esconder os corpos, uma vez que faltavam dois que supostamente tinham caído do camião durante o seu difícil percurso.
Quando o tumulo dos Romanov foi aberto em 1989, depressa se chegou à conclusão de que faltavam dois corpos.
Recurrendo às maiores tecnologias da altura, duas equipas de cientistas (uma russa e uma americana) começaram a analisar aos corpos.
Quando chegou a altura de apresentar as conclusões, as duas equipas mostraram-se em desacordo quanto aos corpos que faltavam. Os americanos diziam ser os de Alexis e Anastasia , enquanto que os russos afirmavam serem os de Alexis e Maria.
Sem que esta polémica fosse de facto resolvida, o corpo de uma das Grã-Duquesas foi enterrado sob o nome de Anastasia Romanov em 1991.
Finalmente, no dia 30 de Abril de 2008, após 8 meses de análise a dois corpos encontrados em Agosto do ano passado, chegou-se à conclusão que todos os membros da família foram mortos na mesma noite.
Anastasia morreu aos 17 anos de idade
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