Segunda-feira, 28 de Junho de 2010

Os Ramos da Família Romanov: Os Leuchtenberg

Maria Nikolaevna com os filhos

Grã-duquesa Maria Nikolaevna com os seus filhos

 

Este ramo originou-se em 1839, aquando do casamento da Grã-duquesa Maria Nikolaevna, filha mais velha do czar Nicolau I, com o Príncipe Maximiano, Terceiro Duque de Leuchtenberg. Ao contrário de outros casamentos da época, este realizou-se por amor, mas trouxe consigo uma série de condições devido à posição do noivo ser mais baixa do que a da noiva. A primeira, e mais importante, foi a de que Maximiano se mudaria para São Petersburgo, uma vez que Nicolau I nunca permitiria que a sua filha saísse de perto de si. Maximiliano, dono de um ducado sem importância e, segundo relatos da época, extremamente apaixonado pela sua noiva, cedeu sem dificuldade.

 

Assim, pela primeira vez desde o casamento de Miguel Pavlovich com a Princesa Carlota de Württemberg, uma família paralela à do Imperador, crescia na Rússia Imperial.

 

O Casal


 

Maria conheceu o seu futuro marido quando este se encontrava em São Petersburgo para manobras militares em 1837. Um ano mais tarde, quando regressou, os dois apaixonaram-se. "Tornou-se bastante claro nos últimos quatro dias que o Max e a Maria foram feitos um para o outro!", escreveu a sua irmã Olga.

 

A união não era de todo desejável. Maximiano era apenas um Duque menor, pertencente à casa da Baviera, um título muito abaixo do de Maria, além disso era também católico e um familiar directo de Napoleão Bonaparte (o seu pai, Eugénio, era filho da Imperatriz Josefina), cujas memórias de guerra ainda estavam bem vivas nas memórias russas. Apesar de tudo a maior indignação veio por parte da mãe de Maximiano, a Princesa Augusta da Baviera, que mais tarde se recusaria a estar presente na união.

 

Apesar de todas as entraves, a cerimónia realizou-se no dia 2 de Julho de 1839, o mesmo dia em que o pai de Maria a presenteou com o seu próprio palácio: o Mariinsky, construído nas margens do rio Neva.

 

O Palácio Mariinsky, a casa de Maria e Maximiliano em São Petersburgo

 

Nos 12 anos que se seguiram, o casal teve sete filhos. Maximiano tornou-se um cientista de renome e Maria uma coleccionadora ávida de arte. O seu prestígio levou a que ele fosse nomeado Presidente da Academia das Artes de São Petersburgo em 1843. Após a morte do marido em 1852, Maria herdou a sua posição.

 

Grã-duquesa Maria Nikolaevna

 

Em 1854, Maria casou-se pela segunda vez, desta vez com o Conde Gregório Stroganov, uma união que gerou dois filhos.

 

Filhos

 

 

Princesa Maria von Leuchtenberg


 

Nascida no dia 16 de Outubro de 1841 em São Petersburgo. Casou-se com o Príncipe Luís Guilherme de Baden, filho de Leopoldo I de Baden e da Princesa Sofia Guilhermina da Suécia, no dia 11 de Fevereiro de 1863 em São Petersburgo. Morreu no dia 16 de Fevereiro de 1914 aos 72 anos. Os seus filhos foram:

 

  • Princesa Maria de Baden (1865 – 1939)
  • Príncipe Maximiano Alexandre Frederico Guilherme de Baden (1867 – 1929)

 

Nicolau, 4º Duque de Leuchtenberg

Nascido no dia 4 de Agosto de 1843 em Sergeievskoie. Casou-se com Nadezhda Annenkova em Outubro de 1868. Morreu no dia 6 de Janeiro de 1891, aos 47 anos, em Paris, França. Abdicou do seu título de Duque de Leuchtenberg para se casar com uma plebeia, passando a partir de então a ser um Príncipe Romanovsky. Os seus filhos foram:


  • Nicolau von Leuchtenberg (1868 – 1928)
  • Jorge von Leuchtenberg (1872 – 1929)

 

Eugénia von Leuchtenberg

 

 

Nascida no dia 1 de Abril de 1845 em São Petersburgo. Casou-se com o Duque Alexandre Frederico de Oldenburgo, filho do Duque Constantino de Oldenburgo e da Princesa Teresa de Nassau-Weilburg, no dia 19 de Janeiro de 1868 em São Petersburgo. Morreu no dia 4 de Maio de 1925, aos 80 anos, em Biarritz, na França.


Teve apenas um filho, Pedro de Oldenburgo (1868 – 1924), que se casou com a Grã-duquesa Olga Alexandrovna da Rússia.


 

Eugénio, 5º Duque de Leuchtenberg


 

Nascido no dia 8 de Fevereiro de 1847 em São Petersburgo. Casou-se primeiro com Daria Opotchinina, no dia 20 de Janeiro de 1869, perdendo o título de Duque de Leuchtenberg. Casou-se em segundo lugar com Zinaida Skobeleva no dia 14 de Julho de 1878 em Peterhof. Morreu no dia 31 de Agosto de 1901 aos 54 anos. A sua única filha, Daria von Leuchtenburg, nascida em 1870 do seu primeiro casamento, foi executada pelos bolcheviques em 1930, acusa de estar envolvida com um grupo terrorista alemão.

 

Sergei, 6º Duque de Leuchtenberg


 

Nascido no dia 20 de Dezembro de 1849 em São Petersburgo. Foi morto no dia 24 de Outubro de 1877 durante a Guerra Russo-Turca. Sem descentes.

 

Jorge, 6º Duque de Leuchtenberg

 

Nascido no dia 29 de Fevereiro de 1852 em São Petersburgo. Casou-se com a Duquesa Teresa de Oldenburgo, filha do Duque Constantino de Oldenburgo e da Princesa Teresa de Nassau-Weilburg, no dia 12 de Maio de 1879. Casou-se em segundo lugar com a Princesa Anastásia de Montenegro de quem se divorciou em 1906. Ela acabaria por se casar com o seu primo, o Grão-duque Nicolau Nikolaevich Jr, com quem manteve um caso enquanto estava ainda casada.

 

Do primeiro casamento teve um filho, Alexandre, 7º Duque de Leuchtenberg (1881 – 1942) e do segundo dois, Sergei (1890 – 1974) e Elena (1892 – 1971).

 

Grã-duquesa Maria Nikolaevna com o filho Jorge


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Quarta-feira, 22 de Abril de 2009

Biografia - Pierre Gilliard

Pierre Gilliard (esquerda) com o Czarevich Alexei Nikolaevich

 

Pierre Gilliard nasceu em 1879 na Suíça. Ficou mais conhecido por ter sido o tutor de francês dos cinco filhos do Czar Nicolau II entre 1905 a 1918. Anos depois do assassinato da Família Imperial pelos bolcheviques, Gilliard escreveu o livro “Thirteen Years at the Russian Court”, relatando as suas memórias do tempo que passou com a família. Neste livro, Gilliard descreve o tormento da Czarina com a Hemofilia do filho e como apenas confiava no monge siberiano Rasputine para o curar.

Nestas memórias, Gilliard conta como chegou à Rússia em 1904 para ser o tutor da família do Duque Jorge de Leuchtenberg, um neto do Czar Nicolau I da Rússia e primo da família Romanov. Ele foi recomendado para tutor de francês para os filhos do Czar e iniciou as suas funções com as duas filhas mais nova, a Grã-duquesa Olga Nikolaevna e a Grã-duquesa Tatiana Nikolaevna, em 1905. Em 1907 iniciou as suas aulas com a Grã-duquesa Maria, em 1909 com a Grã-duquesa Anastásia e, finalmente, em 1912, com o Czarevich Alexei Nikolaevich.

 

Pierre Gilliard com as Grã-duquesas Olga Nikolaevna e Tatiana Nikolaevna

 

Gilliard tornou-se muito ligado às crianças e aos seus pais, decidindo acompanhá-los para o exílio de livre vontade após a Revolução Russa de 1917. Acompanhou-os fielmente durante a sua estadia no Palácio de Alexandre e na Casa do Governador em Tobolsk, sendo o principal autor das últimas fotografias da família, tiradas durante os dias de exílio.


Chegados a Ekaterinburgo em Maio de 1918, os bolcheviques impediram-no de se juntar à família devido à sua nacionalidade suíça. Gilliard descreveu a última vez que viu os seus alunos:


“O marinheiro Nagorny, que cuidava do Alexei Nikolaevich, passou pela minha janela carregando o rapaz doente nos braços, atrás dele vinham as Grã-duquesas carregadas com sacos e pequenos pertences. Tentei sair, mas fui brutalmente puxado de volta para a carruagem por uma sentinela. Voltei para a janela. A Tatiana Nikolaevna vinha em último lugar, carregando o seu pequeno cão e esforçando-se por arrastar o seu pesado malão castanho. Estava a chover e eu vi os pés dela enterrarem-se na lama a cada passo. O Nagorny tentou ajudá-la, mas foi brutalmente afastado por um dos comissários."

 

Pierre Gilliard (ao fundo) com as Grã-duquesas Olga Nikolaevna e Tatiana Nikolaevna e outros empregados em Tobolsk, na Primavera de 1918

 

Gilliard permaneceu na Sibéria por mais três anos após o assassinato da família, ajudando o investigador do Exército Branco Russo, Nicholas Sokolov, com a investigação. Em 1919, casou-se com Alexandra “Shura” Tegleva, que tinha sido uma das amas da Grã-duquesa Anastásia Nikolevna. Mais tarde tornaria-se professor de Francês na Universidade de Lausenne e foi condecorado com a Honra da Legião Francesa.


Gilliard tornar-se-ia um opositor veemente de Anna Anderson, a mulher que dizia ser a Grã-duquesa Anastásia. A irmã mais nova do Czar Nicolau, a Grã-duquesa Olga Alexandrovna, comentou sobre Gilliard e Anna Anderson:


“É obvio que ela não gosta nada dele e a pequena Anastásia era-lhe devota.”

 

Uma das últimas fotografias tiradas por Gilliard à família imperial

 

De acordo com Peter Kurth, um defensor contemporâneo de Anna Anderson, Gilliard não tivera tanta certeza de que ela estava a mentir da primeira vez que a conheceu- Gilliard e a sua esposa Shura foram convidados pela Grã-duquesa Olga Alexandrovna para visitar Anderson no hospital de Berlim em 1925. Peter Kurth alega que Shura terá reparado na mesma deformação nos pés de que sofria a Grã-duquesa Anastásia. O mesmo autor diz que, numa visita posterior, Anderson deitou perfume de um frasco para a mão de Shura e pediu-lhe que ela lhe esfregasse a testa com ele. A antiga ama terá dito que a Grã-duquesa costumava fazer a mesma coisa quando era pequena. Gillard, contudo, ficou céptico quando Anderson não o reconheceu imediatamente e não lhe respondeu às perguntas por ele colocadas.

 

Gilliard (esquerda) com o Czarevich Alexei Nikolaevich, a Grã-duquesa Olga Nikolaevna e o marinheiro Nagorny em 1913

 

De acordo com Peter Kurth, a amiga e apoiante de Anna Anderson, Harriet von Rathlef, alegadamente escreveu que tinha visto Gilliard no corredor, agitado e a murmurar em francês, “Meu Deus, que horror! No que se tornou a Grã-duquesa Anastásia? Ela está um caos, um verdadeiro caos! Quero fazer o que puder para ajudar a Grã-duquesa.” Shura chorou quando teve de deixar Anderson, perguntando-se porque gostava tanto da mulher como gostava da Grã-duquesa. De acordo com Peter Kurth, Gilliard disse ao Embaixador Zahle que, “Vamos embora sem conseguir dizer que ela não é a Grã-duquesa Anastásia.”

 

Gilliard (direita) com o Czarevich Alexei e o Czar Nicolau II na Finlândia

 

Diz-se que o casal escreveu várias cartas amigáveis a Anna Anderson. Algumas semanas mais tarde, Peter Kurth diz que, depois de conhecer a história da mulher, Gilliard mudou a sua posição.


Gilliard escreveu artigos e um livro intitulado “A Falsa Anastásia” contra ela e chamou-a de “aventureira vulgar” e “actriz de primeiro grau”. Também testemunhou contra ela no julgamento iniciado nos anos 30 para determinar se ela era ou não a Grã-duquesa.

 

Uma das fotografias mais conhecidas de Gilliard, mostrando as crianças imperiais com a cabeça rapada no Verão de 1917

 

Gilliard ficou gravemente ferido num acidente de automóvel em 1958 e morreu quatro anos depois devido a complicações derivadas dos mesmos. Está enterrado em Lausanne, na Suíça.

 

Gilliard com o Czarevich Alexei Nikolaevich durante a Primeira Guerra Mundial

 


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Terça-feira, 10 de Fevereiro de 2009

Uma Actriz na Família - Biografia de Natalie Paley (2ª parte)

Natalie com uma criação de Lucien Lelong


Lucien Lelong, nascido em Paris no dia 11 de Outubro de 1889, herdou a sua famosa casa de moda do pai. Pai de uma menina, ele era um herói da Primeira Guerra Mundial que tinha recebido várias honras pelo serviço prestado. Com as suas origens aristocráticas e beleza distinta, Natália foi uma lufada de ar fresco para o negócio de Lelong. Para Natalie (como passou a ser conhecida), a posição deste homem significava poder, dinheiro e segurança.

 

Natalie Paley com Lucien Lelong


Embora ela considerasse com cada vez mais seriedade a ideia de se casar com ele, a sua família e amigos viam a união como estranha devido aos rumores da homossexualidade de Lelong. Apesar disso, o casal contraiu um matrimónio civil no dia 9 de Agosto de 1927. No dia seguinte, sendo seguidos por um grande número de jornalistas, eles casaram-se numa cerimónia religiosa na Igreja Ortodoxa de Santo Alexandre. Para o casamento Natalie usou um vestido criado pelo marido e cativou os olhares das centenas de pessoas que a admiravam. No entanto existem relatos de que ela estava bastante perturbada neste dia.

 

Natalie e Lucien Lelong no dia de casamento

 

A reputação de Lucien Lelong cresceu com a ajuda da sua delicada esposa de gostos maravilhosos. Delicada e glamurosa, vestida com vestidos de noite brancos ou pretos e com capas vermelhas e púrpura, ela não seguia nenhuma moda e tinha o seu próprio estilo. Era conhecida pelos seus chapéus e luvas que usava na sua própria maneira. Começou a fazer trabalhos como modelo para o marido e tornou-se uma das pessoas que o fotografo Cecil Beaton mais gostava de utilizar nos seus trabalhos. Muitas das fotografias tiradas por Beaton de Natália apareceram nas revistas "Harper Baazar" e " Vogue" em finais dos anos 20 e ao longo dos anos 30. A Princesa causou sensação quando apareceu a acompanhar o seu marido num evento público usando um casaco curto de noite feito inteiramente de celofane.

 

Natalie por Cecil Beaton

 

A nova inspiração dos fotógrafos de moda, não demorou muito até o nome e fotografias dela começarem a aparecer em revistas e jornais, não apenas nas páginas de moda, mas também nas colunas sociais. Não se ficando pela sombra do marido, Natalie criou a sua própria imagem e posição entre a elite parisience.


Apesar de partilharem o mesmo gosto pelas artes e pela moda, muitas coisas separavam o novo casal. Demasiado envolvido com o seu trabalho e apaixonado por uma das suas modelos, Lelong nunca conseguiu compreender as angústias da esposa nem os seus ataques de raiva que a afectavam quando ela se encontrava em público.

 

 

Natalie ficou devastada com a morte da mãe em Novembro de 1929 devido a complicações com o cancro que tinha conseguido vencer 9 anos antes. Com a perda da mãe, as memórias de felicidade da infância dela perderam-se. Mesmo os seus laços com Irina faziam parte do passado.

 

Enquanto Natalie se tinha tornado numa socialite, a sua irmã mais velha vivia uma vida calma com o marido e o filho, dedicando-se a trabalhos de caridade e à construção de uma escola para meninas russas.

 

 

Com a afeição do marido a ser dirigida para outra mulher, Natalie foi à procura de consolação para outro lado. Enquanto passava o Verão de 1930 em Veneza, começou um caso com o carismático dançarino Serge Lifar, cujo talento era admirado por todo o mundo. Um antigo amante do mestre de bailado, Serge de Diaghileff, ele era o acompanhante ideal para Natalie. Tendo sido abusada sexualmente quando criança, ela nunca aceitou outro amor que não o platónico, e assim a relação deles era sentimental e não física. A relação durou quase dois anos. Depois ela seguiu para um outro caso. A escolha voltou a ser estranha.

 

Natalie Paley na "Vanity Fair" de Abril de 1933

 

Natália iniciou um curto e ambiguo romance com o escritor Jean Cocteau. Os pormenores sobre este romance são vagos e divergentes. Alguns dizem que os dois tiveram uma relação intensa que resultou na gravidez de Natália. Esta relação terá sido manchada pelo ciume doentio de Marie-Laure de Noailles, uma mulher obsecada por Cocteau que terá feito os possíveis para causar a infelicidade do casal. Supostamente devido à influência de Marie-Laure, Natália terá decidido abortar, uma decisão que entristeceu Cocteau e a perceguiu para o resto da vida. Outros dizem que o escritor terá exagerado o tipo de relação que tinha com a Princesa, uma vez que, de acordo com relatos da altura, Natália seria apenas uma amiga próxima, mas Cocteau costumava passar horas ao telefone com os amigos afirmando que a amava. Os que defendem esta versão dizem mesmo que ela nunca esteve grávida e que essa foi uma invenção de Cocteau. Se realmente existiu um romance, não se sabe, mas Jean Cocteau baseou-se na sua relação com Natália para escrever o livro "Os Meninos Diabólicos" publicado 1939.

 

 

Após terminar a sua relação com Cocteau, Natalie decidiu sair de casa do marido e abandonar a vida que tinha construido. Comprou um apartamente em Esplanade dês Invalides onde entertinha a sociedade e os artistas mais proiminentes que jantavam frequentemente com ela. Mas ela cansou-se depressa desta vida e sentiu necessidade de novos desafios. As suas fotografias continuavam a fazer sucesso nas revistas, mas a mente dela estava longe desse mundo. Tão naturalmente como se virou para a moda, virou-se para o mundo do cinema na Primavera de 1933.

 

 

O seu primeiro papel foi no filme “L’Epervier”, realizado pelo primo do seu marido, Marcel L'Herbier no qual foi também Lelong a desenhar o guarda-roupa. Para se preparar, Natalie teve aulas de representação com a actriz belga Eve Francis, antiga esposa do realizador Louis Delluc. O enredo de “L’Epervier” era comum, mas o elenco era interessante. A história conta as aventuras de um aristocrata, o Conde George de Dasetta, interpretado por Charles Boyer, e da sua esposa Marina (Natalie), dois jogadores compulsivos que vivem uma vida luxuosa até que ela o deixa por um jovem diplomata, Rene de Tierrache (Pierre Richard-Willm). Depois, informada sobre as tentativas de suicídio do marido, a esposa infiel volta para ele. Filmado nos estúdios parisiences de “Joinville”, “Biarritz” e “Rome”, “L’Epervier” reflectia a vida de Natalie, embora poucos se tenham apercebido disso na altura. Não foi dos filmes com mais sucesso do ano, mas constituiu uma vitória para uma mulher cuja vida parecia vazia.

 

A crítica adorou Natalie. “Uma estrela está a erguer-se, iluminada por uma chama de promessas”, “um raio de sol numa paisagem gelada”, “Ela parece uma personagem de Andersen, uma daquelas inquestionáveis personagens de contos de fadas com uma cara de anjo,” foram algumas das opiniões que recebeu.

 

Natalie numa cena de "L'Epervier" com Charles Boyer

 

Agora que era apelidada de “nova Garbo” e frequentemente comparada à sua amiga Marlene Dietrich, ela começou a acreditar nas suas próprias capacidades e entrou no filme melodramático de 1934, “Le Prince Jean”, novamente com o actor Pierre Richard-Willm, e cujo realizador era Jean de Marguenat. Com a excepção dos protagonistas, o filme em si (que contava a história de um príncipe que, após vários anos numa legião estrangeira, regressa ao seu reino para descobrir que o trono foi ocupado pelo irmão) foi bastante mal recebido e foi um desastre nas bilheteiras.


No filme seguinte, “The Private Life of Don Juan”, teve apenas uma pequena participação. No filme participavam Douglas Fairbanks e Merle Oberon e era realizado por Alexander Kords. O filme foi realizado para o “London Films” e mais uma vez teve pouco sucesso nas bilheteiras. Desiludida com a carreira na Europa, Natalie fez as malas e, no Outono de 1934, respondeu ao convite da Twentieth Century Fox para tentar a sua sorte nos Estados Unidos da América. A imprensa francesa previa um futuro brilhante para a sua estrela. Infelizmente a previsão não se cumpriu.

 

Natalie Paley por Cecil Beaton

 

Co-realizado por Roy del Ruth e Marcel Achard, o musical “L’Homme des Folies Bergeres”que iniciou as filmagens em Dezembro de 1934, foi a versão francesa e orginal de “Folies Bergere”. Maurice Chevalier, na sua habitual personagem cortês, interpretou em ambas as versões o papel de dois homens que trocam de identidade por algumas horas. Natalie tinha o papel de Baronesa Genevieve Cassini, interpretada por Merle Oberonna versão inglesa. Ela estava consciente que não tinha dado o seu melhor nesta comédia inesquecível e a estreia do filme na Primaverade1936 não ajudou ao seu lançamento na América.

 

 

 

Natalie sentiu-se mais confortável sob os conselhos de George Cukor, no seu primeiro filme em inglês, “Sylvia Scarlett”, adaptado para o ecrã por John Collier do romance de Compton Mackenzie e que contava com a participação de Katherine Hepburn, Cary Grant e Brian Aherne. Sendo uma das protagonistas, Natalie desempenhou na perfeição a personalidade “Vamp” de Lily Levetsky, uma refugiada russa.

 

 

Filmado em Laurel Canyon e Malibu desde meados de Agosto até finais de Outubro de 1935, “Sylvia Scarlett” custou 1 milhão de dólares para ser produzido. A primeira de quatro colaborações entre Katherine Hepburn e Cary Grant (mais tarde eles participariam juntos em “Bringing Up Baby”, “Holiday” e “The Philadelphia Story”), o filme é notável por mostrar a ambiguidade da própria personalidade de Hepburn, reflectindo tanto o seu charme feminino e o seu comportamento masculino. Apesar de ser um dos filmes mais intrigantes dos anos 30, foi um grande fracasso nas bilheteiras e chegou mesmo a classificar Katherine Hepburn como “veneno” para bilheteiras.

 

Natalie numa cena do filme "Sylvia Scarlett" com Katherine Hepburn


Natalie esqueceu depressa a carreira que tinha para promover, uma vez que tinha encontrado em Cukor o amigo perfeito que procurava. O próprio realizador ficou encantado com o charme dela. Durante toda a sua vida, ele guardou uma das fotos de Natalie tirada por Cecil Beaton na sua casa, uma honra que apenas partilhou com Katherine Hepburn. Também começou uma amizade com Hepburn que duraria até ao final da sua vida. Lançado no dia 3 de Janeiro de1936, o filme não teve sucesso devido à sua ambiguidade sexual. O beijo de Katherine Hepburn com Dennie Moore e certas falas como quando Brian Aherne diz que se sente um pouco “maricas” ao olhar para Katherine Hepburn vestida de homem, chocaram o puratismo americano e não ajudaram em nada a carreira de Natalie Paley.

 

Uma cena de "Sylvia Scarlett" com Cary Grant

 

A carreira cinematográfica de Natalie foi muito breve. O seu último filme, “Les Hommes Nouveaux”, foi realizado em 1936 e era um drama sobre o falecido marechal Liautey, um herói da Primeira Guerra Mundial em Marrocos. Contava com a participação de Harry Baur, Gabriel Signoret, Max Michaell e Jean Marais.


Apesar de ela não estar muito interessada em embarcar no projecto, foi convencida por Marcel L'Herbier a interpretar uma bonita viúva, a Condessa Christiane de Sainte-Foy, apanhada pelos segredos do seu passado problemático. A estreia a 22 de Dezembro de 1936 foi um sucesso fenomenal, mas Natalie já se tinha decidido quanto à sua vida. Queria escapar do seu casamento que há muito constituía apenas uma formalidade, da sua carreira, que apenas continuava a subir devido à sua beleza e não ao seu talento e também do seu passado violento que a continuava a atormentar.

 

Natalie no filme "Les Hommes Noveaux"

 

Pouco depois do seu divórcio oficial de Lelong, a 24 de Maio de 1937, ela fez declarações oficiais à imprensa de que se iria casar com o produtor teatral John Chapman Wilso nno mês de Setembro.  Tal como Lelong e Cocteau, John Chapman Wilson era abertamente homossexual e os seus romances com o actor Noel Coward e Cole Porter eram bem conhecidos entre a sociedade nova-iorquina, particularmente os pormenores sórdidos sobre o abuso de álcool e drogas partilhado pelo casal, por isso a notícia de que ele se iria casar com a delicada Natalie chocou o público. Talvez tanto a noiva como o noivo fossem igualmente calculistas nesta união. Wilson sabia que a sua bonita e popular esposa lhe poderia abrir muitas portas no seu negócio como produtor da Broadway, enquanto que Natalie gostava do humor dele e o facto de ser homossexual protegia-a da sua incapacidade de manter relações físicas. Mais uma vez ela procurava um companheiro e não um amante.

 

Natalie com o seu segundo marido, John Chapman Wilson

 

O mundo que a tinha recebido antes começava a distanciar-se e Natalie caiu na escuridão após a morte do marido. A maior parte dos seus amigos, as testemunhas do seu antigo esplendor, estavam agora mortos. Jean Cocteau, Erich Maria Remarque, Coco Chanel, Noel Coward, Lucien Lelog, e muitos outros tinham já desaparecido. Ela viu-se condenada à solidão. Após 1975, ela fechou-se do mundo e tornou-se uma reclusa. Recusou-se mesmo a receber os poucos amigos e familiares que lhe restavam, apesar de continuar a responder às suas cartas e chamadas. Com a velhice, Natalie ficou cega e recebeu a assistência de familiares do marido e alguns admiradores que cuidaram dela até ao fim. Em 1978 ficou emocionada quando o seu antigo amigo e amante Serge Lifar lhe enviou uma pequena carta na qual utilizou uma citação de Pushkin: “Nunca nos esqueceremos do nosso primeiro amor. O coração da Rússia nunca te esquecerá. E quanto a ti, o meu coração nunca te esquecerá."

 

No dia 21 de Dezembro de 1981, Natalie tinha caído na banheira e partido o fémur, sendo levada de emergência para o Hospital Roosevelt. Foi operada de urgência, mas a operação correu mal e o estado de saúde piorou. As suas últimas palavras foram sussurradas a uma enfermeira: “Eu quero morrer com dignidade.” Nunca mais voltou a falar.

 

Natalie Paley tinha 76 anos quando morreu na noite de 27 de Dezembro de 1981. Depois de uma cerimónia privada, foi enterrada ao lado de John Chapman Wilson no cemitério de New Jersey.

 


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Uma Actriz na Família - Biografia de Natalie Paley (1ª parte)

 

Natália Pavlovna Paley nascida a 5 de Dezembro de 1905, foi um ícone da moda, socialite e actriz nascida em França. O seu pai era o Grão-duque Paulo Alexandrovich da Rússia, filho do czar Alexandre II e tio do czar Nicolau II. Ficou mais conhecida entre o grande público pelo seu nome artístico, Natalie Paley.


Natália era descrita como o sonho dos publicitas de Hollywood. Uma criatura fascinante, descendente da mais rica e famosa família europeia, os Romanov, era a figura viva do “chic” francês e quase demasiado perfeita para ser real. A sua vida romântica e trágica foi algo que a ficção nunca poderia ter igualado. Viveu os últimos tempos da Rússia czarista, os glamorosos anos 30 na alta sociedade parisiense e movimentou-se pelos círculos mais altos de Hollywood e Nova Iorque.


A sua vida floresceu e depois apagou-se. No final tudo o que restou foi uma mulher triste e só que agraciou o seu século como uma rara, mas desperdiçada flor.

 

Natalie fotografada por Cecil Beaton

 

Os pais de Natália, o Grão-duque Paulo Alexandrovich da Rússia e a aristocrata Olga Paley, conheceram-se em São Petersburgo por volta de 1895. Na altura ela estava casada com um oficial e era mãe de três crianças. Paulo era também pai de dois filhos, (a Grã-duquesa

Maria Pavlovna e o Grão-duque Dmitri Pavlovich) mas viúvo. A sua esposa, a Princesa Alexandra da Grécia, tinha morrido ao dar à luz o seu filho Dmitri. Os dois apaixonaram-se rapidamente e começaram um caso em segredo. Contudo o segredo não durou muito tempo, uma vez que no dia 9 de Janeiro de 1897, Olga deu à luz o primeiro filho do casal, Vladimir Pavlovich. Olga conseguiu obter o divórcio do marido e deixou a Rússia na companhia de Paulo. Os dois casaram-se em

Livorno, na Itália, a 10 de Outubro de 1902.

No dia 21 de Dezembro de 1903 voltaram a ser pais, desta vez de uma menina a quem chamaram Irina. Pouco tempo depois do nascimento da bebé, o Rei da Baviera deu a Olga o título de Condessa von Hohenfelsen, que deveria ser transmitido aos seus descendentes. A família ainda se encontrava na Itália quando Paulo recebeu uma carta do seu sobrinho, o czar Nicolau II da Rússia, onde lhe foi transmitido que, devido ao casamento realizado sem a sua autorização, o casal e os filhos estavam banidos da Rússia. Embora tivesse sido um preço alto a pagar, principalmente para Paulo que tinha os seus dois filhos do primeiro casamento em São Petersburgo e era um patriota convicto.

 

Os pais de Natalie, o Grão-duque Paulo Alexandrovich e a Princesa Olga Paley

 

A família instalou-se em Paris e comprou uma casa em Boulogne-sur-Seine, onde Natália nasceu em 1905. A casa luxuosa onde viviam tinha pertencido anteriormente à Princesa Zenaide Ivanovna Youssoupova (mãe do Príncipe Félix Yussupov) e tinha permanecido fechada desde a morte dela em 1897. Paulo e Olga contrataram, ao todo, 16 criados que incluíam camareiras, jardineiros e tutores.

 

Natalie ainda bebé com a irmã Irina e o irmão Vladimir

Vladimir, Irene e Natália tiveram uma infância muito feliz com todas as vantagens de uma vida privilegiada e, durante algum tempo, viveram protegidos do mundo exterior. Apesar dos seus pais terem uma vida social ocupada, as crianças eram muito chegadas a eles e comiam todas as refeições juntos, um costume pouco comum para a sua época e posição. Aos Domingos a família costumava ir até a uma Igreja Ortodoxa próxima da sua casa e participar numa missa privada conduzida pelo padre que tinha baptizado Natália.

 

Natalie durante a sua infância na casa em Paris

 

O perdão chegou do czar Nicolau II em Janeiro de 1912 e Paulo decidiu deixar a França imediatamente para visitar os seus filhos do primeiro casamento em Czarskoe Selo, perto de São Petersburgo. Paulo sentiu-se em casa novamente e decidiu mandar construir um luxuoso palácio na sua cidade natal. Este novo projecto precisava de 64 criados, um grande contraste em relação à casa que a família mantinha em Paris. A família mudou-se para Czarskoe Selo na Primavera de 1914.

 

Natalie (dir.) com a irmã Irina

 

A pequena Natália, isolada das realidades que afectavam a Rússia czarista, ficou muito entusiasmada com a viagem, bem como com a descoberta de uma nova família, incluindo a sua avó materna e os seus meios-irmãos. Tornou-se rapidamente amiga das suas primas Olga, Tatiana, Maria e Anastásia, filhas do czar Nicolau II. Foi um momento dourado na vida de Natália, mas muito curto. Três meses depois de a família começar a sua nova vida, rebentou a Primeira Guerra Mundial. Ela tinha 9 anos de idade.

 

Natalie em 1914

 

A vida sem preocupações de Natália terminou. O seu irmão Vladimir, bem como a maioria dos homens da sua família, juntou-se ao seu regimento para lutar contra a Áustria e a Alemanha. Apesar da sua saúde fraca, o seu pai decidiu ignorar os conselhos médicos e juntou-se aos esforços russos na guerra em 1916.

A revolução eclodiu em Fevereiro e todos os membros da família Romanov foram mantidos sob vigilância. Em vez de abandonar o país, Paulo e a sua esposa, não vendo perigo, decidiram ficar no seu palácio. Quando o czar e a família foram exilados para a Sibéria, Natália e a sua família receberam ordens de prisão domiciliária. Cada dia que passava trazia novas humilhações ao ponto de terem soldados bêbados a dormir nos corredores. Em Janeiro de 1918, o governo de Lenine decretou que o palácio onde a família residia se deveria tornar num museu e Olga foi forçada a trabalhar como guia dos seus antigos bens confiscados pelo governo. O carro da família foi também confiscado e passou a ser utilizado por Lenine.

 

Natalie com a irmã em Czarskoe Selo

 

Natália, a irmã e a mãe foram depois forçadas a viver noutra área do palácio e a cozinhar para os guardas, sempre debaixo de insultos e insinuações. Apesar de ela nunca ter falado sobre isso em nenhuma entrevista ou em cartas, os amigos e familiares de Natália confessaram que um grupo de soldados abusou sexualmente dela durante a prisão, quando ela tinha pouco mais de 13 anos. Durante o resto da vida, este crime afectou as suas relações com homens.

 

Natalie na Suíça aos 14 anos

 

Mas o pior ainda estava para chegar. Vladimir foi preso em Viatka a 22 de Março de 1918 e o pai de Natália recebeu a mesma ordem a 30 de Julho. Em desespero Olga organizou a fuga das filhas com a ajuda de alguns amigos. A fuga aconteceu numa noite de Dezembro. As duas irmãs foram transportadas de carro até à estação de comboios de Ochta. Após uma viagem de quatro horas onde tiveram que viajar dentro do vagão de gado, as duas saltaram do comboio perto da fronteira com a Finlândia. O resto da viagem até ao país vizinho foi feita a pé. As duas adolescentes foram levadas para uma casa de caridade e esperaram pela chegada dos pais e irmão.

 

Natalie (dir.) com a irmã

 

O pai delas nunca conseguiu fugir da Rússia. O Grão-duque Paulo foi assassinado em Janeiro de 1919 juntamente com outros três parentes. Olga conseguiu chegar à Finlândia e encontrou as filhas. Na altura ela ainda estava a recuperar lentamente da tragédia da morte do marido e também de uma cirurgia de emergência à qual se tinha submetido para tratar de um tumor no peito. Em Setembro de 1919 as três descobriram que Vladimir tinha sido também assassinado em Julho do ano anterior juntamente com outros membros da família, incluindo a Grã-duquesa Isabel Feodorovna, tia de Natália. Também o ex-czar e a sua família tinham sido assassinados.

 

Natalie (em baixo) com a família em 1914

 

Natália mudou-se com a irmã e a mãe para a Suécia onde viveram até à Primavera de 1920. Depois voltaram para França onde venderam a sua antiga casa e compraram outra no 16º distrito. Com algumas jóias que lhe sobraram, Olga comprou uma villa em Biarritz, na costa atlântica, onde a família se juntava. Mais tarde ela vendeu a casa em Paris e comprou uma mais pequena em Neuilly. A saúde de Olga foi piorando ao longo que os meses avançavam. Em 1928 soube-se que os bens que tinham sido confiscados à família seriam vendidos num leilão em Londres. A família foi até Inglaterra para os tentar recuperar, mas não conseguiu.

 

Natalie (esq.) com a irmã durante a adolescência

 

Natália e a sua irmã foram enviadas para um colégio privado proeminente na Suiça, mas ela não se conseguiu misturar com os seus colegas. Tal como confessou mais tarde durante uma entrevista a uma revista, ela sentia-se “tão diferente dos outros. Aos 12 anos as meninas francesas ainda liam Robinson Crusoe e viam filmes do Douglas Fairbanks. Aos 12 anos eu levava pão ao o meu pai na prisão. Como poderia eu ser como elas? Eu era muda e não brincava. Mas andava a ler muito. Eu tinha visto a morte de tão perto. O meu pai, o meu irmão, os meus primos e os meus tios foram todos executados, todo aquele sangue Romanov derramado durante a minha adolescência. Tudo isso me deu gosto por coisas tristes, poesia e morte. Rapidamente as minhas colegas compreenderam-me e respeitaram a forma como era, por muito estranha que possa ter parecido.”

 

 

As irmãs regressaram a Paris onde Irina se casou com o Príncipe Feodor Alexandrovich da Rússia, filho da Grã-duquesa Xenia Alexandrovna. O casamento realizou-se no dia 31 de Maio de 1923. Apesar da felicidade da irmã, Natália não pensava em casamento, apesar de não lhe faltarem admiradores.

 

Tal como a maioria dos aristocratas russos sobreviventes da revolução que se tinham estabelecido em França, Natália foi à procura de emprego. Encontrou um quando entrou na casa de moda de Lucien Lelong em Matignon, perto dos Campos Elísios, onde foi contratada como modelo.


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Quinta-feira, 4 de Setembro de 2008

Biografia - Irina Alexandrovna

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A Princesa Irina Alexandrovna, nascida no dia 15 de Julho de 1895 em Peterhof na Rússia, foi a filha mais velha e única rapariga nascida do Grão-Duque Alexandre Mikhailovich (neto do Czar Nicolau I) e da sua esposa Xenia Alexandrovna (irmã mais nova do Czar Nicolau II). Era também a única sobrinha de Nicolau II e casou-se com o Príncipe Félix Yussupov, um dos assassinos de Rasputine, em 1914.

 

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Irina com a sua mãe Xenia

 

Antes do seu casamento no dia 22 de Fevereiro de 1914, Irina, filha mais velha e única rapariga de sete crianças, era considerada a mulher mais elegível da Rússia Imperial. A sua família passou longos períodos a viver no Sul de França depois de 1906 devido ao desacordo político entre o seu pai Alexandre (conhecido na família por “Sandro”) e o seu tio, o Czar Nicolau II. O seu pai mantinha um caso amoroso com uma mulher dessa região e pediu várias vezes o divórcio à sua mãe, mas ela recusou sempre. Xenia, por seu lado, também mantinha vários amantes. Os pais de Irina tentaram esconder o seu casamento infeliz dos seus sete filhos, por isso os irmãos tiveram uma infância feliz.

 

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Irina com o pai Alexandre

 

Em criança, Irina era tímida e muito pouco faladora, com olhos azul-escuros e cabelo negro. Era frequentemente chamada de Iréne, a versão francesa do seu nome, ou Irene, a versão inglesa, enquanto que a sua mãe lhe chamava de “Bebé Rina”. Como passaram a maior parte da infância no estrangeiro, Irina e os seus irmãos falavam melhor Francês e Inglês do que Russo e por isso utilizavam as versões francesas e inglesas dos seus nomes quando falavam entre si.

 

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Irina com o seu irmão Nikita

 

O seu futuro marido, Félix Yussupov, era um homem de muitas contradições. Vinha de uma das famílias mais ricas da Rússia, gostava de se vestir com roupas de mulher e tinha relações sexuais com homens e mulheres que escandalizavam a sociedade, no entanto, ao mesmo tempo, era um homem religioso que gostava de ajudar os outros para além das suas posses. A certa altura, no meio de uma onda de entusiasmo, planeou dar todas a sua fortuna aos pobres para imitar a sua mentora, a Grã-Duquesa Isabel Feodorovna. “As ideias do Félix são absolutamente revolucionárias,” escreveu a Czarina Alexandra Feodorovna com desagrado. Ele foi persuadido a não oferecer todo o seu dinheiro pela mãe, Zenaide, que lhe disse que ele tinha o dever de casar e dar continuidade à linha familiar, uma vez que era filho único. O futuro assassino de Rasputine tinha também um medo obsessivo da violência das guerras.

 

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Irina com o seu marido, Félix Yussupov

 

Félix, com as suas inclinações homossexuais, não era, certamente, “próprio para casar”. Mesmo assim, sentiu-se atraído por Irina quando a conheceu pela primeira vez. “Um dia quando estava a cavalgar conheci uma jovem muito bonita que estava acompanhada por uma senhora mais velha. Os nossos olhos cruzaram-se e ela impressionou-me tanto que eu parei o meu cavalo e fiquei a olhar para ela enquanto a via afastar-se,” escreveu ele nas suas memórias. Um dia, em 1910, ele recebeu uma visita do Grão-Duque Alexandre Mikhailovich e da Grã-Duquesa Xenia Alexandrovna e ficou feliz quando descobriu que a rapariga que tinha visto no seu passeio a cavalo era a única filha do casal, Irina. “Desta vez tive muito tempo para admirar a beleza magnífica da rapariga que, eventualmente, se tornaria na minha mulher e companheira de uma vida. Ela tinha feições bonitas, cabelo encaracolado e parecia-se muito com o pai.”

 

 

Irina (direita) com as primas Olga e Tatiana Nikolaevna

 

Ele voltou a encontrar-se com Irina em 1913 e sentiu-se ainda mais ligado a ela. “Ela era muito tímida e reservada, o que adicionava um certo mistério ao seu charme. Pouco a pouco a Irina tornou-se menos tímida. No princípio os olhos dela eram mais eloquentes do que a conversa, mas, quando ela se tornou mais aberta, aprendi a admirar o entusiasmo da sua inteligência e as suas opiniões. Não lhe escondi nada do meu passado e, longe de ficar perturbada pelo que lhe disse, ela mostrou grande tolerância e compreensão.” Yussupov escreveu também que, talvez devido ao facto de ter crescido com tantos irmãos, Irina não demonstrava qualquer artimanha ou falta de honestidade que o tinham afastado de outras relações com mulheres.

 
 
Félix e Irina em 1914
 

Apesar de Irina ser compreensiva em relação ao passado de Félix, os seus pais não eram. Quando eles e a sua avó materna, a Imperatriz Maria Feodorovna, souberam dos rumores ligados ao passado pouco próprio do Príncipe Yussupov quiseram cancelar o casamento. A maioria dos rumores que lhes tinham chegado aos ouvidos vinham do Grão-Duque Dmitri Pavlovich, primo de Irina, que era um dos amigos mais próximos de Félix e, segundo especulações da época, terá tido um caso amoroso com ele. Dmitri disse a Félix que ele também estava interessado em casar com Irina, mas ela disse preferir Félix. O seu futuro marido também conseguiu persuadir os seus pais relutantes a não cancelar a cerimónia e conseguiu convencê-los.

 

 

O casamento foi o acontecimento social do ano de 1914 e a última grande demonstração do poderio da corte russa. Irina usou um vestido do século XX em vez do tradicional vestido da Corte que outras noivas Romanov tinham usado para os seus casamentos. Ele teve a liberdade de o fazer uma vez que era apenas uma Princesa e não uma Grã-Duquesa.

 

Acompanhou-o com uma tiara de diamante e cristal trabalhado e um véu que pertencera a Maria Antonieta. Os convidados acharam que ambos faziam o casal perfeito e não se cansaram de falar das suas roupas, postura e alegria. Irina foi levada ao altar pelo seu tio, Nicolau II, e o presente de casamento do Czar foi um saco de veludo com 29 diamantes inteiros que variavam entre os três e os sete quilates. Irina e Felix também receberam uma variada colecção de pedras preciosas de outros convidados do casamento. Mais tarde eles conseguiram retirar os diamantes do país após a Revolução Russa de 1917 e venderam-nos para conseguir dinheiro na sua nova vida.

 

Félix e Irina no dia do casamento

 

Os Yussupov estavam em lua-de-mel pela Europa e Médio Oriente quando rebentou a Primeira Guerra Mundial. O casal ficou brevemente detido em Berlim depois do inicio das hostilidades e Irina teve de pedir à sua prima Cecília da Prússia para intervir junto do seu sogro, o Kaiser Guilherme II, para poderem abandonar o país e chegar à Rússia. O Kaiser recusou o pedido, mas deu-lhes a escolha de ficar na Alemanha numa de três propriedades que lhes oferecia. O pai de Félix fez um pedido ao embaixador da Espanha e o casal conseguiu regressar.

 

Félix transformou uma ala do seu Palácio de Moika num hospital militar, mas conseguiu escapar ao serviço militar devido a uma lei que dava a escolha aos filhos únicos de ir para o campo de batalha ou ficar em casa. Mesmo assim ele entrou nos Cadetes onde teve uma formação militar embora nunca fosse sua intenção alistar-se no exército.

 

 

 

 

Tanto Irina como Félix estavam conscientes de que os rumores escândalos que circulavam sobre a associação de Rasputine com a família imperial estavam a agravar a situação política e traziam consigo mais motins, manifestações e violência. Yussupov e os seus amigos conspiradores (que incluíam o Grão-Duque Dmitri Pavlovich) decidiram que Rasputine estava a arruinar o país e, por isso, deveria ser morto. Félix começou a visitar o monge com frequência numa tentativa de ganhar a sua confiança. Diz-se que ele conseguiu um encontro com Rasputine dizendo que necessitava da sua ajuda para ultrapassar os seus impulsos homossexuais e satisfazer Irina no seu casamento.

 

A 16 de Dezembro de 1916, a noite do assassínio, Félix convidou Rasputine para jantar na sua residência. O monge sempre demonstrara interesse em conhecer a bonita Irina de 21 anos, por isso Félix disse que ela estaria presente e o apresentaria à sua esposa. Irina, no entanto, estava a fazer uma visita aos pais e irmãos na Crimeia. A sobrinha do Czar sabia dos planos de Félix para eliminar o monge e pode até, a princípio, ter sido uma das escolhidas para realizar o assassínio. “Também tens de participar,” escreveu-lhe Félix algumas semanas antes, “o Dmitri Pavlovich já sabe de tudo e está a ajudar. Tudo vai acontecer em meados de Dezembro quando ele regressar.”

 

 

 

Em finais de Novembro de 1916, Irina escreveu a Félix: “Obrigada pela tua carta louca. Não entendi metade dela. Vejo que estás a planear fazer algo selvagem. Por favor tem cuidado e não te metas em nenhum negócio sombrio. O pior de tudo é que decidiste fazer tudo sem me consultar. Não vejo como posso participar agora visto que já está tudo planeado… Numa palavra, cuidado. Percebi pela tua carta que estás num estado de entusiasmo selvagem e pronto para trepar paredes. (…) Vou chegar a Petrogrado no dia 12 ou 13, por isso não te atrevas a fazer alguma coisa sem mim ou então nem sequer saio daqui.” 


Félix respondeu no dia 27 de Novembro de 1916: “A tua presença em meados de Dezembro é essencial. O plano sobre o qual te estou a escrever foi elaborado com grande detalhe e está quase pronto, só falta a conclusão, pelo que a tua chegada é esperada. (o assassínio) É a única maneira de salvar a situação que se tornou quase desesperante (…) Tu vais servir de isco (…) Claro que não deves dizer nada a ninguém.”


Irina, assustada com a dimensão dos planos, recuou no dia 3 de Dezembro de 1916. “Eu sei que se voltar vou ficar doente (…). Não sabes como são as coisas. Quero chorar todo o dia. A minha disposição está horrível. Nunca estive assim (…). Nem eu sei o que se passa comigo. Não me arrastes para Petrogrado. Vem tu ter comigo. Perdoa-me, meu querido, por te escrever estas coisas. Mas eu já não consigo continuar, não sei o que se passa comigo. Talvez seja uma crise nervosa. Não te zangues comigo, por favor não te zangues. Amo-te muito. Não posso viver sem ti. Que o Senhor te proteja.”

 

 

 

No dia 9 de Dezembro de 1916, Irina voltou a avisar Félix, contando-lhe sobre uma conversa que tinha tido com a filha de 21 meses: “Algo incompreensível tem-se passado com a Bebé. Há duas noites atrás ela não conseguia dormir e estava sempre a repetir, ‘Guerra, ama, guerra!’ No dia seguinte perguntaram-lhe, ‘Guerra ou Paz?’ e a Bebé respondeu, ‘Guerra!’ No dia seguinte eu disse-lhe para dizer ‘Paz’ e ela olhou para mim e respondeu, ‘Guerra!’ É muito estranho.”

 

Os pedidos de Irina de nada serviram. O seu marido e os seus amigos avançaram com o plano sem ela. Depois do assassínio de Rasputine, o Czar exilou Yussupov e Dmitri Pavlovich. Félix e a sua família foram enviados para Rakitnoe, uma casa de campo remota pertencente aos Yussupov que ficava na Rússia Central. Dmitri foi enviado para a frente de combate na Pérsia com o exército. Dezasseis membros da família assinaram uma carta onde pediam ao Czar para reconsiderar a sua decisão devido à fraca saúde de Dmitri, mas Nicolau II recusou a proposta. “Ninguém tem o direito de matar considerando apenas o seu próprio julgamento,” escreveu Nicolau. “Eu sei que há muitos outros para além do Dmitri Pavlovich cujas consciências não lhes dão descanso por estarem comprometidas. Estou abismado por me pedirem tal coisa.”

 

 Irina com a filha e o pai Sandro

 

O pai de Irina, Sandro, visitou o casal em Rakitnoe em Fevereiro de 1917 e achou o ambiente “animado, mas revolucionário.” Félix ainda esperava que o Czar e o governo russo respondessem à morte de Rasputine tomando passos para controlar a crescente agitação política. Féliz recusou-se a deixar Irina juntar-se à sua mãe em Petrogrado por considerar a cidade demasiado perigosa. O Czar abdicou no inicio de Março e tanto ele como a sua família foram presos e, eventualmente, executados pelos bolcheviques. A decisão do Czar de exilar Félix e Dmitri foi a sua salvação, visto que fizeram parte dos poucos membros da família que conseguiram escapar à onda de execuções dos Romanov que se seguiu à revolução.

 

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/en/9/9c/In_exile_Irina_and_Felix.jpg

 

Após a Revolução Russa de 1917, Irina, Féliz e a sua pequena filha passaram a residir em Ai Todor, na Crimeia, numa propriedade que pertencia ao pai de Irina. A sobrinha do Czar tinha permissão para se deslocar livremente (ao contrário dos seus parentes) devido ao facto de ter renunciado os seus direitos ao trono quando se casou com Félix. Contudo a família vivia num estado de incerteza constante. Tal como a maioria dos membros da família Romanov que se encontrava na Crimeia, a família Yussupov fugiu da Rússia a bordo de um navio militar britânico enviado pelo rei Jorge V no dia 7 de Abril de 1919.

 

Félix Yussupov gostava de se gabar sobre o assassínio de Rasputine durante a viagem até Inglaterra. Um dos oficiais britânicos reparou que Irina “parecia tímida e recatada a principio, mas bastava falar sobre a sua pequena filha para a fazer esquecer as suas reservas e descobrir que também ela era muito cativante e falava inglês fluentemente.”

 

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Durante o exílio na Inglaterra, Irina e Félix viveram melhor do que a maioria dos emigrantes da revolução russa. Durante algum tempo o casal teve uma boutique chamada “Irfe” (as duas inicias dos seus nomes). A própria Irina serviu de modelo para alguns dos vestidos que tanto o casal como outros estilistas criaram. Mais tarde eles sustentaram-se a partir dos vários processos que ganharam contra editoras e estúdios cinematográficos que, através de livros ou filmes, consideravam estar a denegrir a sua imagem. O mais famoso e rentável foi o processo movido contra a MGM após do lançamento do filme “Rasputin and the Empress” em 1932. No filme, um Rasputine luxurioso seduz a única sobrinha do Czar, chamada de “Princesa Natasha” pelos produtores. O processo foi concluído em 1934 com a vitória dos Yussupov. Outra fonte de rendimento foram as memórias escritas por Félix que continuava a ser famoso por ter assassinado Rasputine.

 

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Félix e Irina a analisar imagens do filme "Rasputin and the Empress"

 

A filha do casal foi maioritariamente criada pelos avós paternos até aos 9 anos de idade e foi muito mimada por eles. A sua educação instável fez com que se tornasse “caprichosa”, de acordo com Félix. Tanto ele como Irina (ambos criados maioritariamente por amas) não se sentiam capazes de criar a filha sozinhos. A única filha do casal adorava o pai, mas tinha uma relação distante com a mãe.

 

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Félix e a filha Irina
 

Félix e Irina eram mais próximos um do outro do que alguma vez foram da filha e tiveram um casamento feliz que durou mais de 50 anos. Quando Félix morreu em 1967, Irina ficou irremediavelmente deprimida e acabou por morrer apenas três anos mais tarde com 75 anos de idade.

 

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Irina no funeral de Félix

 

 

 


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